Ora, mas isso acontece em todas as grandes capitais europeias!
Assim que usam o argumento “Ora, mas isso acontece em todas as grandes cidades europeias!”, eu desligo. Logo. Direto. Sem passar pela casa da partida. Descredibilizo a pessoa em causa, deixo de a ouvir, ignoro qualquer frase depois disso, risco a pessoa da minha vida, morreu para mim, acabou. Vá, calma, é possível que a frase imediatamente antes desta esteja carregada de exagero. É possível. Mas um exagero muito próximo da realidade.
As mais giras nunca foram um objetivo a atingir. As mais inteligentes, talvez. Mas, neste texto, é de beleza que falamos e também de alguma luxúria e, especialmente, de dinheiro.
No outro dia, dediquei-me a ver um pedaço de um programa na RTP 2, sobre turismo e turistas, chamado “Turistas, vão embora”. Falaram de diversas cidades europeias com graves problemas relacionados com o turismo. Uma das cenas que mais me marcou foi quando uma senhora de Veneza contava que, certa vez, um turista lhe tinha perguntado: “A que horas é que isto fecha?”. E com isto referia-se à cidade de Veneza. Achava, possivelmente, que isto era um parque de diversões.
Desculpem lá voltar a bater no ceguinho mas, na minha cidade, o meu custo de vida aumentou e a minha qualidade de vida diminuiu: os restaurantes estão cada vez mais caros e eu não consigo uma vaga com facilidade (se calhar, é só uma forma airosa do mundo me fazer gastar cada vez menos dinheiro em copos e jantaradas – está certo, eu aceito).
E, claro, depois temos que levar com aquela frase, acompanhada com aquele sorriso meio estranho, francamente orgulhoso e com muitos quês de snobismo: “Ora essa! Mas tu agora não sabes que pertencemos às tipas mais giras! Somos o último hit!”, sim, dizem isto enquanto esganiçam bastante a voz e terminam sempre – mas sempre - de forma igual: “Não sabes que isto acontece em todas as grandes capitais europeias?!?!”
Sei, malta. E não gosto. Desculpem lá não compactuar com este complexo de inferioridade que alguns portugueses têm, quando acham que tudo o que é em estrangeiro é que é bom, quando, na verdade, há muita coisa no estrangeiro que não presta.
Há muita coisa boa lá fora, eu sei. Felizmente, tenho muito mundo e não gosto – mesmo nada – desta ambição desmedida de nos tornamos nos mais populares da festa.
Caminhamos para ser uma Disneyland Paris com Sol (já que, na Disneyland Paris verdadeira, o Sol é escasso), virada para o turista e a desprezar completamente as pessoas que aqui querem viver e trabalhar.
A pergunta que se impõe é: que tal sermos inteligentes e aprendermos com os erros das, vá, grandes cidades europeias que tanto queremos alcançar?