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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Qui | 10.05.18

Sócrates: a arte de bem ludibriar.

Catarina Duarte

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Bom, lá vou eu trazer à discussão o tema do momento: SÓ-CRA-TES. Sim, dito exatamente desta forma: em voz alta e espaçadamente, porque, em voz baixa e rapidamente, andaram todos a dizê-lo durante os últimos anos, na tentativa de o chutarem, tranquilamente, para debaixo do tapete, para que ninguém desse por ele.

 

Eu tentei, com todas as minhas forças, não falar sobre isto aqui no blog, pois raras são as vezes em que trago para aqui o tema “política”. Sucede que, neste momento, é a única coisa que me interessa no panorama nacional: o Benfica não ganhou o campeonato e o Festival da Canção não me aquece nem me arrefece. Por isso, perdoem-me.

 

Para começar, devo dizer que sempre me mantive afastada de SÓ-CRA-TES, apesar de um dia quase ter esbarrado com o seu advogado no El Corte Inglés. Este nosso afastamento não tem qualquer segredo: sempre achei que, ao brilho que emanava, não vinha agarrada a confiança que pretendia transmitir.

 

A mim, sempre me pareceu estranho que as pessoas não prestassem atenção aos sinais que o Universo envia e, agora à distância, podemos concluir que foram mesmo muitos. Que cegos que fomos!

 

Para começar, falamos de um Primeiro-ministro que esteve 7 anos à frente do país e que tentou, por todas as formas e feitios, controlar a comunicação social (quem se lembra das polémicas em torno da TVI, em geral, e da Manuela Moura Guedes, em particular?), que depois foi alvo daquela confusão de ser ou não ser licenciado (qual Tragédia de Hamlet!), que depois se viu envolvido no caso Freeport e das luvas e depois no caso de Vara, do sucateiro e das luvas e depois na Operação Marquês e das luvas e depois no caso da Lava Jato e das luvas e depois da casa de Paris e das suas obras e depois no esquema do apartamento no Heron Castilho e depois da polémica do amigo que era mais do que seu pai e depois a história das roupas e do sustento da família e depois, depois, e depois a certeza de que nunca mais na sua vida terá frio nas mãos, tantas foras as luvas que adquiriu, ao longo dos anos.

 

O António Costa, por sua vez, naquele seu jeito tranquilo que lhe é característico, numa tentativa de gerir a crise da melhor forma, no último dia do ano de 2014 vai visitar o amigo (não há aqui qualquer ironia - foram as palavras do próprio) e atira aquilo que já todos sabemos “Vai certamente lutar pelo que acredita ser a sua verdade” – nem Costa acredita na inocência de SÓ-CRA-TES. Nem Costa, o eterno optimista, acredita…

 

Após o seu pedido de desfiliação do Partido Socialista, na passada semana, vemos SÓ-CRA-TES sozinho, abandonado por todos, numa ilha ali na Expo, e achamos que o filme acabou.

 

Mas, não, não acabou.

 

A sua enganada ex-namorada, a jornalista Fernanda Câncio, escreve um artigo despeitado, reflexo da forma como, muito possivelmente, se sente, a rasgar de forma nunca antes vista. Nas linhas que escreve fica a pairar no ar a forma como Câncio se sente: traída, apunhalada pelas costas, traída (outra vez) e zangada. E é neste momento que esta história ganha todo um estatuto de romance cor-de-rosa e ficamos a saber que as artimanhas e o poder de argumentação de SÓ-CRA-TES também eram utlizadas na esfera privada, mais concretamente, na esfera íntima, arrastando toda a gente para os caminhos que ele próprio criava, utilizando, possivelmente, de forma a não deixar qualquer rasto, algumas das luvas, entretanto, ganhas. Ficámos a saber, então, que a sua lábia, a mesma que convenceu os portugueses a elegerem-no duas – DUAS – vezes, muito possivelmente também era usada no quarto onde se deitava. Ok, isto agora ficou estranho.

 

Para terminar, apenas dizer que nem SÓ-CRA-TES se livra do julgamento em praça pública, nem o PS se limpa deste lixo todo que traz colado ao corpo, porque, assumindo ou não, criou as condições necessárias para que um homem como SÓ-CRA-TES se sentasse na cadeira de Primeiro-ministro durante sete anos, gozando com a cara de cada um de nós – mesmo de quem não o elegeu, como foi o meu caso.

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