Completamente cercada por papéis que insistem em aparecer à minha volta, canetas de algumas cores, marcadores variados e uma lista de to dos que cresce a cada minuto que passa, sinto-me encurralada e a pensar, seriamente, nas férias, não marcadas, que insistem em não chegar.
Pergunto-me se esta chuva que beija fortemente as paredes nuas dos prédios, este frio tardio que resolveu aparecer, serve para amainar todos os meus desejos de areia e descanso ou é apenas mais um incentivo do “mete mãos à obra” que tens mesmo que trabalhar.
Entre todos estes pequenos nadas que nos consomem os dias pastosos que teimam em alongar-se, vamo-nos esquecendo de nós, das unhas que não estão arranjadas, do cabelo que já precisa de um valente corte, dos sapatos que têm que ser engraxados, entre outros detalhes que nos fazem sentir que, enfim, há alguma ordem na nossa vida.
Eu consciencializo-me do que não sei quando faço medições à vida e verifico que até sei umas coisas. Se fizer contas, perco-me na quantidade de livros que ainda tenho para ler; filmes, cidades, museus e concertos para assistir e viver. Enfim, muitas coisas para fazer e o tempo que insiste em escassear-nos por entre os dedos.
Vivo nesta ânsia: hierarquizo aquilo que quero já absorver não vá a vida tecê-las. Esta minha visão pode parecer dramática: aceito, sem medos nem receios, essa opinião de quem me lê pois o que tenho de apaixonada e optimista, tenho também de consciente. E a sério que há demasiado mundo para descobrir e pouco tempo para o fazer. Ciente disso, perco pouco tempo com televisão, essa sugadora de minutos, uns atrás dos outros, e, quando damos por isso, já se passou uma noite em que não aprendemos nada de novo. Abraço livros e tendo direccionar-me a eles quando o ócio tende a vencer-me. Dizia um amigo: nunca conheci ninguém com tantos livros espalhados pelo carro. A verdade é que se nos rodearmos de saber, torna-se sempre mais fácil a ele acedermos.
No Dia Mundial da Poesia, deixo a minha preferida:
"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mão à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro! Era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! e eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos, no tempo em que o teu corpo era um aquário, no tempo em que os meus olhos eram peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor..., já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas.
Opinião: As minhas expectativas, sobre este livro, eram mais que muitas, embora, assuma, tenha, de alguma forma inconsciente, tentado colocá-las em baixo. Gostei muito da forma como está este livro está escrito. As descrições, aparentemente simples, são de uma liberdade poética como há muito não via (lia). Considerei a história engraçada e, acima de tudo, bem contada. Muito bem contada. O emaranhado da história envolve-nos. A escrita delicia-nos. As nossas emoções flutuam entre a delícia e o constante desassossego, consoante a altura da história em que nos encontramos. O único ponto menos positivo do livro, do meu ponto de vista, foi a previsibilidade do mesmo. Não o considero um livro óbvio, longe disso. Mas, a menos de metade do livro, infelizmente, já tinha descoberto o final. Andei a segunda metade do livro a tentar convencer-me que o livro não ia terminar daquela maneira. Mas terminou. Este facto deixou-me algo decepcionada quando conclui que o fim era exactamente para onde estava a orientar as minhas suposições. Independentemente deste facto é um bom livro que aconselho a ler.
As APPs estão na moda. E a verdade é que há para todos os gostos
Porém, de todas as que possuo, a que mais adoro, é o Goodreads.
Esta APP é óptima para quem gosta de espreitar opiniões de leitores comuns e foge a sete pés de críticos literários.
Dá para dar pontuação aos livros (de 1 a 5) e ver a pontuação média obtida.
Quem quiser também pode criar um challenge com o objectivo de livros a ler.
Pode-se também fazer listas dos livros que queremos ler, listas com os que temos em casa (é óptimo para quem já não sabe a quantas anda), com os que já lemos, com os que estamos a ler, enfim…
Quando não sabes o que escrever, vai fazer uma sopa.
Descasca duramente os legumes, corta-os com algum vigor, não muito, o suficiente apenas, e atira-os para uma panela corriqueira ou, então, para dentro daquelas mais modernas, tanto faz, o resultado tende a ser o mesmo. A sério, juro que é remédio santo.
Depois, adiciona água, não muita!, que eu gosto delas, das sopas, mais para o espesso, como as palavras, sem floreados, nem bonitezas associadas, duras e certeiras, como se querem. No fundo, se o que interessa é apagar o fogo insaciado pela ausência de letras, coze-a em lume brando, regularmente mexida e esporadicamente provada. Rectifica temperos. Não te esqueças. Coloca sal e um fio de azeite, não estiques no sal que, pese embora as palavras não se quererem insipidas, também não convém abusar nos condimentos. Em demasia, fazem mal: dizem.
Depois, claro, no final da sopa feita, com abundantes fios de couve mais uns mixurucos pedaços de nabo ainda a boiar no caldo alaranjado, pode dar-te para escreveres sobre o próprio acto de fazer sopa. Bem, aí nada feito. Mas também te digo: se o texto tiver a força revitalizante e, ao mesmo tempo, a capacidade de apaziguar o ardor interior que uma sopa tem, podemos dizer, sem pudores, que atingimos concretamente o objectivo a que nos propusemos.
Parece um princípio básico, não parece? E advém de uma série de outro princípios igualmente básicos, como o respeito pelas demais pessoas que nos rodeiam.
Porém, na galopada para a fama, ainda são alguns que resvalam na vaidade e se moldam no desprezo.