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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Qui | 26.11.15

Dizem os outros.

Catarina Duarte

"Se te tocar um tipo porreiro, estás safo. Se te tocar um filho da puta, a coisa complica-se. Mas o pior são os imbecis, Chaparro. Cuidado com os imbecis, rapaz. Se te tocar um imbecil, estás feito."

O segredo dos seus olhos - Eduardo Sacheri

 

 

Qua | 25.11.15

Curtas - Agora podia tornar todas as feiras da semana em belos fins.

Catarina Duarte

Ele vivia cansado pela espera. Todos os dias aguardava mais um pouco, enfeitiçado pela hora que demorava a chegar. Dia após dia velava exausto pela altura em que se iria reformar. Há já muito que tinha reduzido o seu ritmo de trabalho, numa tentativa de, pensava ele, não sentir tanto a passagem de uma altura para a outra. De fora veio, sob a forma de um convite camuflado de boa vontade e preocupação, o empurrão prévio, com um "o Zé pode passar a ficar mais por casa, enquanto não se reforma de vez".

E o Zé foi ficando. Passou a visitar apenas esporadicamente o escritório, sede do seu ganha-pão nos últimos 40 anos, na altura em que os trabalhos eram pontos de honra e para a vida. Até que um dia a carta acabou mesmo por chegar, a reforma tornou-se realidade e ele teria agora, finalmente, todo o tempo do mundo para a sua vida.

Quantas horas esteve encerrado naquelas 4 paredes? Quantas horas permaneceu a laborar de forma sistemática e contida os afazeres de todos os dias, rezando para que a sua vida pessoal se mantivesse calma de forma a não o desorientar no meio das suas tarefas laborais? Tantas horas dedicadas à linha de montagem da empresa, minutos atrás de minutos, a executar de forma perfeita o seu papel. Agora? Agora sim! Agora podia viver o tempo que não viveu. Agora podia libertar o sufoco contido ao longo de 40 anos de trabalho. Agora podia levantar-se e deitar-se quando quisesse, podia tornar todas as feiras da semana em belos fins. Podia aspirar cada segundo de descanso como a melhor recompensa da vida profissional exemplar que teve. Podia. E vai. E começou. Redesenhou, com ansiedade, os seus afazeres, reordenou o seu corpo e a sua mente. Elaborou planos detalhados sobre o que ia fazer a todos os minutos da sua reforma, produzindo um horário repleto de sossego intercalado com planos de lazer.

Porém, depressa concluiu que todos os minutos livres desta nova fase, rapidamente se converteram em intermináveis horas de pasmaceira e abandono e que a sede de descanso foi saciada ao fim da primeira semana e a solidão, agora expressa pela distância do trabalho, o começou a inundar. 

A linha que separa uma reforma reparadora da solidão existente é muito subtil. Essa linha, tão ténue e difusa, concluiu o Zé, afunda-nos em melancolia e molda-nos no mais profundo e triste "nós".

Seg | 23.11.15

Dizem os outros.

Catarina Duarte

"Nem a ela, nem a nenhuma das outras mulheres que passaram pela sua vida, chegou Chaparro a confessar a verdade: o seu hábito de se olhar ao espelho não tem nada que ver com adorar-se ou gostar de si. Sempre foi nada mais nada menos que uma nova tentativa de saber quem raio vem ele próprio a ser"

O segredo dos seus olhos - Eduardo Sacheri

Sex | 20.11.15

Não gosto de café porque sabe a café.

Catarina Duarte

Há uns largos anos eu costumava dizer que não gostava de café porque sabia a café.

(Agradeço, todos os dias, aos meus pais, pela paciência que tiveram para comigo porque educar uma criança com tanta tendência para desconversar não deve ser fácil.)

Na altura, a verdade é que, se o café não soubesse a café, eu até poderia gostar de café. Se tivesse, claro, um sabor que, de facto, gostasse. Chocolate, talvez. Nunca fui muito esquisita quando se trata de sabores: só o do café é que não me conquistava.

Lembro-me de ficar intrigada porque é que nunca ninguém tinha decidido criar um café com um leve sabor a outra coisa qualquer. Era menina para me deixar de estereótipos parvos com sabor a cafeina e bebê-lo. 

Hoje em dia, acho piada à frase do não gosto de café porque sabe a café e penso nela como a minha real postura adolescente, completamente transversal a muitas outras áreas da minha vida da altura.

Ora, o destino, como já vem sendo seu hábito, lá se encarregou de me provar que a vida dá muitas voltas. E, hoje em dia, encontro-me diariamente absorvida pelo sabor e pela vida existente numa única e pequena chávena de café. Mas, essencialmente, pelo seu cheiro acre e espumoso que me envolve aqui dentro e aquece. E revitaliza, se quiserem.

Ter | 17.11.15

14 de novembro.

Catarina Duarte

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Foi um dia feliz. O meu primeiro 14 de novembro passado a dar mergulhos no mar. Não peço mais nada para estar a transbordar de felicidade.

Recebi os livros na fotografia. Ofereceram-me muitos livros este ano. Alguns dos quais faziam parte da minha wishlist!

Já leram algum? Gostaram?

 

Seg | 16.11.15

Dizem os outros.

Catarina Duarte

"Amo-te tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita, se o nosso casamento definhou de mocidade como outros de velhice, se depois de ti a minha solidão incha do teu cheiro, do entusiasmo dos teus projectos e do redondo das tuas nádegas, se sufoco da ternura de que não consigo falar, aqui neste momento, amor, me despeço e te chamo sabendo que não virás e desejando que venhas do mesmo modo que, como diz Molero, um cego espera que os olhos que encomendou pelo correio".

António Lobo Antunes - Memória de elefante

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