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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Seg | 30.05.16

Café.

Catarina Duarte

Sou viciada em café e são raras as vezes que o tomo na sua forma mais fraca. O seu cheiro revitaliza-me, gosto do sabor, gosto da forma que tomo depois de o consumir. Sinto-me a renascer. Sim, a renascer. É a minha chave de ignição, o que me preparar para o mundo.

Fico sempre pasmada com as diferentes variedades e formas de tomar café. Mas, creio, nada substitui a sua forma mais crua e simples. Uma bica bem tirada, sempre sem açúcar, para não camuflar sabores.

Há por ai mais viciados em café?

Bom dia :)

Dom | 29.05.16

Crónica de uma Portuguesinha.

Catarina Duarte

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Não perco mundo por ter uma significativa percentagem em mim de portuguesinha.

Por muitas músicas que ouça, que ouço, por muitos géneros que adquira, que adquiro, nada supera o cantar sofrido de um fadista, a mágoa reflectida na repetição dos versos, a alma colocada em cada quadra. Sinto, em cada dedilhar da guitarra portuguesa, o choro pequenino dos meus avós e, por isso, sinto-me próxima das minhas raízes.

Gosto de ler frases que foram criadas na minha língua. Onde as metáforas me são familiares e, até de certa forma, cúmplices com a vida que escolhi viver. Gosto de sentir os arranjos, meditados e trabalhados, e a carga emotiva e inacabada dos grandes escritores portugueses. Gostos dos eufemismos que empregam quando querem aligeirar a coisa. E das hipérboles quando querem exagerar no tema. Identifico-me com o sofrimento latente nas letras cravadas nas folhas dos seus livros. Identifico-me.

Não há luz igual à nossa, à da minha Lisboa, nem cidade que contemple em si harmonias tão perfeitas de mundos tão diferentes: o bairrismo de Alfama e a cosmopolita Baixa-Chiado.

Não gosto do Halloween, não lido bem com importações de tradições embora reconheça que as tradições e as novidades podem coexistir, criando, se espaço houver, o seu próprio equilíbrio. Prefiro ver o Halloween sincero nos Estados Unidos do que a sua adaptação no meu país. Identidade. Gosto que haja identidade.

Forço-me a apreciar todas as culinárias locais dos sítios para onde viajo mas nada me faz brilhar tanto os olhos quando os mesmos pousam numa travessa de feijoada à transmontada. Não há alimento mais consolador do que uma sopa portuguesa. Não há melhor sobremesa do que leite-creme e arroz doce. Quentes. O leite-creme queimado na altura; o arroz doce com bastante canela.

Se isto faz de mim portuguesinha? Não sei. Podia passar o dia a relatar episódios, numa tentativa de justificar a minha vaidade quando ouço alguém falar a nossa língua redonda.

Podem-me tirar o cabrito, o bacalhau, o cozido, o peixe grelhado sem molhos nem apêndices. Podem-me tirar a melancolia do fado, a luz reflectida nos prédios da minha cidade, o leito do meu rio calmo e brilhante. Podem-me tirar os meus escritores preferidos que são quase todos portugueses.

Se isso acontecer, não me tiram tudo - mas tiram-me (mesmo) muita coisa.

 

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Sex | 27.05.16

Dar tempo. Especialmente a quem tem mau acordar.

Catarina Duarte

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Lembrem-se disto: É preciso dar tempo. A tudo. Até a quem tem mau acordar.

Os momentos que se seguem ao meu acordar são desastrosos.

Não sou uma pessoa particularmente alegre aos primeiros minutos da manhã e pouco importa se acordo com o despertador ou por mim. Nunca beijo o mundo de felicidade só pelo simples facto de ser uma sortuda por acordar.

Os meus genes modelam seriamente em mim a revolta por ter que me levantar. Pior ainda se for cedo.

Se os momentos que sucedem o meu despertar não forem repletos de frases suaves e timbres de voz contidos, o meu dia prevê-se manchado pela irritabilidade.

Adorava dizer que sou a pessoa mais maravilhosa do mundo ao acordar e que encaro cada dia como uma bênção. Encaro, é certo, mas só algumas horas depois. Horas depois.

É preciso respeitar quem precisa de tempo. Tempo para acordar. Tempo para se concretizar. Tempo para se inteirar deste mundo que se escreve de forma tão rápida. Tempo para transitar do ninho para a vida frenética que somos.

Para reforçar: É preciso dar tempo. A tudo. Até a quem tem mau acordar.

Bom dia :)

 

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Qui | 26.05.16

Feira do Livro.

Catarina Duarte

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Esteve um dia óptimo e eu cheia de vontade de ir até à Feira do Livro.

Mas não. Passei por lá apenas por breves minutos que, embora tenham servido para sentir o cheiro dos livros, souberam a pouco.

Em oposição, tenho a secretária recheadinha de legislação. Gostava que as finanças tivessem a mesma dedicação e leveza comigo que eu tenho com elas. São calhamaços de códigos tributários que ocupam espaço, peso, tempo e trabalho. Dedicação e leitura em detalhe.

Estava um bom dia para passear pelo Parque, para salpicar os olhos com as novidades, procurar boas oportunidades e comer uma fartura.

Não há muitos eventos na cidade que adore tanto como a Feira do Livro. E também não há mais nenhum evento literário onde eu gaste tanto dinheiro. Dinheiro que representa investimento, claro. Apesar de tudo, sou uma pessoa positiva.

Mas aqui estou eu, minimamente arranjada, entre a analítica e a financeira que, contas feitas, venha o diabo e escolha. Já esgotei a minha quota de paciência para calcular margens e percentagens de acabamento. Juro-vos que já não tenho posição na cadeira quando a pergunta incide sobre qual o custo unitário de cada tonelada de farinha.

Pagava para poder ter vivido mais a Feira, neste feriado que juraram ser de mau tempo mas que se revelou luminoso e solarengo. Já nem me importava com as alergias se isso implicasse o namoro demorado com os livros.

Resta-me o consolo de haver ainda muita Feira para além da data do exame.

Boa noite:)

Qui | 26.05.16

Sobre a educação.

Catarina Duarte

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Ela descia, de forma desengonçada, a ladeira de acesso ao meu prédio. Trazia na mão uma revista enrolada e, na outra, a carteira, de alça curta, cola ao corpo.

Segurei-lhe na porta quando percebi que era no meu prédio que ela pretendia entrar e aguardei.

Passou por mim, subiu as escadas de acesso ao elevador, carregou o botão e ficou, algo petrificada, a ver o número do andar a decrescer onde o elevador se situava, por cima da porta do mesmo. Parou no zero.

Eu continuava estática com a porta da mão a assistir. Larguei um “de nada” bem audível, segui-lhe o rasto e parei ao seu lado.

Justifico, por vezes, a falta de educação como falta de atenção. Pelo facto de as pessoas andarem tão distraídas, tão absorvidas pelo seu mundo, que se tendem a esquecer do que os rodeia. É o (meu) caminho mais fácil para justificar o mau comportamento dos outros.

Mas, depois penso, a educação foi feita para moldar comportamentos aos desatentos, a todos aqueles cujas regras tendem a resvalar para o chinelo.

E, depois penso novamente, se calhar são apenas pessoas que não tiveram a sorte de seguir o protocolo orientado da educação.

Se calhar é apenas isso. Não tiveram sorte.

 

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Sab | 21.05.16

Sobre as rotinas.

Catarina Duarte

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Eu sou a pessoa que mais gosta de rotinas mas que mais acha que não é de rotinas.

Vou avisando que este texto tem o seu ponto de esquizofrenia.

Tenho um sentimento que me afasta de tudo o que são rotinas: inovar, sair do caminho, improvisar. Mas, na base do meu ser, sou feita exactamente destas pequenas rotinas e fujo sempre destas pequenas mudanças.

Normalmente, durante a semana, almoço em dois restaurantes. Ora num, ora noutro. E fico sempre com uma ansiedade estranha quando me propõem experimentar outros. Não percebo esta necessidade de mudar, quando somos felizes em determinados sítios.

Ou, por outra, claro que percebo, eu sou adepta da quebra de rotina!

No sushi que mandamos vir para casa, recorremos sempre ao mesmo. Qualidade boa, preço porreiro. Às vezes, é verdade, esquecem-se do extra soja, algo que me perturba um bocadinho. Mas, não mudo, estou fidelizada. Esta semana pedimos outro, o argumento utilizado foi o normal: “para experimentar”. Eu cedi. Um lado de mim só pensava: mas porquê?; enquanto que o outro contrariava a tendência natural: “vá, inova lá… até pode ser melhor”. Não pode ser melhor! Eu gosto tanto do outro! O sushi lá chegou e comprovou-se a minha teoria: em equipa que ganha não se mexe.

Mas, claro que não entendo esta teoria, porque eu adoro inovar!

Há um restaurante que serve fora de horas e, às sextas-feiras, quando deixamos arrastar a inércia nas nossas vidas, é, frequentemente, a nossa “cantina”. As bolinhas de carnes são óptimas, os bifes maravilhosos são, o quente e frio é delicioso e adoramos o atendimento caloroso do empregado de há anos (um dia escrevo sobre ele). Uma vez, fomos lá com uma amiga que achou boa ideia comer arroz de pato. Ela diz que estava bom. Eu senti o meu olho esquerdo a tremelicar: arroz de pato no sítio onde fazem dos melhores bifes de Lisboa? 

Claro que não concordei comigo mesma. Deve-se recriar rotinas e ter novas experiências!

Este texto está um bocado bipolar (e só dá exemplos de comida) pois, não sei se já disse, eu sou a pessoa que mais gosta de rotinas mas que mais acha que não é de rotinas: o meu cérebro tenta sempre contrariar esta minha tendência natural para me acomodar ao que me faz feliz.

 

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