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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Qui | 29.09.16

Malta com dons.

Catarina Duarte

Acho que há malta que nasce com dons. Talentos escondidos que se vão revelando, aos poucos, até tornarem, quem os possui, em verdadeiros deuses. Não sei se esses dons representam legados de alguém, se são hereditários ou se, apenas e só, são conquistados com a mínima organização mental.

(confesso que nunca me dediquei a pensar, de forma séria, sobre este assunto)

Mas há, de facto, malta que nasce com dons.

Um dos maiores dons de algumas pessoas que conheço é nunca se perderem em parques de estacionamento. Como é que eles fazem isso?!? A serio, há coisas que me incomodam. E não saber como é que eles fazem isto, é uma delas.

Será a palavra “dom” demasiado forte para algo tão vulgar? Se responderam afirmativamente à questão, acrescento apenas: nunca me viram num parque de estacionamento.

Eu, na teoria, até percebo a lógica que os parques de estacionamentos aplicam: colocam o -1, o -2, o -3 de forma clara e inequívoca, pintam com cores fortes e chamativas, investem em números, em letras e, nalguns parques, até têm máquina que fixam o lugar onde estamos; sou capaz de assumir: está ali um trabalho do caraças. Mas eu (eu!) consigo perder-me sempre (sempre!) que vou a parques novos! Não consigo decorar um lugar!

Por isso, adoptei uma estratégia que até tem funcionado (problema é que só funciona em dois locais): estaciono sempre no mesmo sítio.

Nesses dois locais as coisas tendem a fluir com relativa tranquilidade:

Nas Amoreiras estaciono SEMPRE na zona azul, piso -2. Só conheço aquela zona e fico maluca se há obras, se o parque está cheio naquela zona, se há qualquer problema que me impossibilite de estacionar ali (como se não houvesse mais hipóteses dentro do parque).

No Colombo estaciono SEMPRE na zona verde, piso -1. Não me perguntem porquê. Mas é assim que funciona. E, quando vou com alguém que insiste em estacionar na zona vermelha que é onde está o supermercado (porquê? Se nem vamos ao supermercado?), começo a híper ventilar, o suor a cair-me ferozmente da cara, os braços a tremer, como se fosse acontecer a eventualidade, tão certa como aparecer um cão a voar, de me perder num piso cimentado, num andar debaixo da terra, cheio de carros e nunca mais ser encontrada.

Mas nestes dois locais, a sério, eu sou a rainha, e quando sou eu a comandar, e me dirijo para a zona integrante da minha rotina de estacionar, é ver-me, a sair do elevador, no sentido do carro, de forma decidida e empoeirada, esticar o braço de modo determinado e altivo indicando com o camando onde pára o carro, carrega no abrir e entrar, como se nunca, nunca, tivesse sido tão fácil encontrar-me num parque de estacionamento.

Qui | 29.09.16

Uma sugestão para esta quinta-feira.

Catarina Duarte

Vou usar este mundo virtual (por nele ser mais fácil partilhar o que de bom se faz) para partilhar Luís Osório (a sua página no facebook, claro está).

O autor desta página, nela deposita textos (e sugestões), com bastante frequência, mas – e isto é a melhor parte -, quase sempre, carregados de alma.

Gosto de textos com alma. Nota-se que saem do melhor que temos.

Gosto de o ler.

Vale mesmo a pena ver.

Boa quinta-feira!

Qua | 28.09.16

Que vidas guardam as casas quando já lá não há vida?

Catarina Duarte

Desde há uns tempos para cá, alguns dos meus vizinhos, foram-se embora. Juro que não sou eu quem potencia esta situação, não faço más vizinhanças, nem crio situações embaraçosas. Quero acreditar: antes pelo contrário.

 

Mas foram-se, uns a seguir aos outros, sem horas ou dias marcados. As suas pessoas deixaram de apanhar os meus elevadores e de passar pelo mesmo hall de entrada do que eu; as suas dinâmicas foram, certamente, modificadas, os caminhos que agora apanham para os colégios ou para os trabalhados foram alterados. Os seus barulhos, aqueles que bombeavam a vida das suas casas, desapareceram.

 

Imagino eu, não sei porque não vi, que nada resta a não ser o chão vazio e as paredes desocupadas, com picadas dos quadros outrora pendurados.

 

Hoje, porque já saíram, já não são meus vizinhos, serão, certamente, de outros alguéns, por isso, vou fugir dessa palavra.

 

As casas estão, ainda, vazias de móveis e vida e, sem novos seres com as características necessárias para adaptarem esta palavra, a palavra "vizinhos", pergunto apenas: que vidas guardam as casas quando já lá não há vida?

 

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Ter | 27.09.16

Bipolaridades Climáticas.

Catarina Duarte

Ninguém entende que eu já ande de robe de lã e que tenha já posto o edredon na cama. Ninguém entende. Dizem que amanhã vão estar trinta e muitos graus: um autêntico dia de verão - rematam.

E eu, que ando já com os pés frios, embrulhada numa espécie de bipolaridade climática: t-shirt de alças, com o robe por cima, pés sem meias mas já com calças quentes. Estamos bem, a sério. Dizem que, no meio, é que está a virtude. Agarro-me eu a isso e, no centro da inconsistência destes graus, procuro eu a minha média. Sempre me dei mal com estações intermédias. Revelam em mim instabilidade da hora de vestir e constipações: umas atrás das outras. Já sinto o nariz a pingar, mesmo que ele não esteja.

Já me sinto a tossir, mesmo que ela, a tosse, não exista. Juro que, algures no meio do meu sofá, jazem já destroços de lenços, fruto das gripe que estão para vir. Decidam-se: ou avançamos para um verão forte e vincado a manter até ao próximo agosto, ou passamos, de forma rápida e indolor, para o frio do inverno.

Assim, no meio deste estado, ora faz frio, ora faz calor, (embora consciente que é no seu centro que mora todo o predicado da coisa), para mim, não funciona: sinto-me à mercê desta insegurança climática e isso transtorna-me. Saco de água quente e pés de fora para arrefecer - esta oscilação não faz bem a ninguém!

Até amanhã.

Ter | 27.09.16

Sobre viver na cidade. Sobre não viver no campo. (e - também - sobre o contrário)

Catarina Duarte

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A cidade, por mim, não é trocada pelo campo.

 

Claro que as minhas escapadinhas para a natureza fortalecem o que sou, adocicando, de forma clara, os meus dias, que surgem sempre poluídos pelas ruas ásperas da cidade.

 

Porém, talvez pela idade que tenho ou (talvez também) pelo facto de ter nascido e vivido habituada à bagunça de Lisboa, não me vejo, munida "da bagagem do para sempre", rumar para a paz verdejante do campo.

 

A cidade, por mim, não é trocada pelo campo.

 

Conheço pessoas que preferem viver serenamente junto do silêncio campestre, mesmo que isso implique uma viagem diária, dia após dia, para trabalhar em Lisboa, do que viver bombeados pela folia rápida da nossa cidade e estar a um passo de tudo.

 

Compreendo.

 

Porém, a cidade, por mim, não é trocada pelo campo.

 

A bagunça frenética destas ruas fazem-me, verdadeiramente, falta. Não me refiro, obviamente, ao trânsito caótico que, ultimamente, temos assistido. Mas, antes, a este balançar desnorteado que a cidade me oferece como combustível a este meu coração acelerado.

 

A calma do campo é boa, para mim, só as vezes.

A respiração arrebatadora da cidade é boa, para mim, na maior parte dos dias.  

 

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Seg | 26.09.16

Sabem aqueles dias em que acordam…

Catarina Duarte

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Sabem aqueles dias em que acordam (com o despertador, claro está) e parece que são quatro da manhã?

Aqueles dias em que estão tão cansados que nem conseguem estender o braço para desligar o despertador?

Aqueles dias em que fazem tudo (o que habitualmente fazem só que) em modo autogestão: saem da cama, tomam banho, vestem-se, tomam o pequeno-almoço – executam as deslocações que concretizam há anos mas agora de forma automática, lenta e pouco convicta.

Hoje é um desses dias.  

Bom dia.

Dom | 25.09.16

Lisboa Antiga - Cafélia.

Catarina Duarte

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É impossível não reparar numa das lojas mais antigas da Avenida de Roma.

Não ressalta pela grandeza, pelo espaço desafogado nem (muito menos) pela decoração moderna. Não sobressai por isso – pois são características que não possui – e ainda bem.

 

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Salienta-se antes pelo aroma, o melhor dos nossos sentidos, aquele que nos remete para a nossa saudade, aquele que nos recorda o café moído na altura, aquele que nos lembra os caramelos coloridos, aquele que nos revive as geleias de fruta e também o cheiro singular dos rebuçados Dr. Bayard. A isto tudo, anexam-se as amêndoas de chocolate, os frutos secos e o impulso, para entrar, surge naturalmente. E isso é tudo.

 

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Da forma como está, encontra-se aberta há 46 anos, sendo que há muitos mais, se tivermos me conta mudanças antigas da loja do n.º 55C desta movimentada avenida da cidade.

 

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O atendimento, esse, é personalizado, dado com detalhe, paciência e amizade, aos clientes que por ali pairam há já longos anos.

Conversa-se sobre passagens pessoais, sobre a avó, sobre a mãe, sobre a filha, perguntas ligeiras e amáveis, resposta leves e sentidas.

Conversa-se também sobre “o mesmo do costume”, sobre o “pode moer que já cá venho buscar”. A forma de falar é familiar e cheirosa - como o café que por ali paira.

Aos novos clientes, a forma de receber, não varia: a simpatia corre nas veias dos donos, na mesma medida que as prateleiras se enchem de bules, chávenas, chás e bolachas.

 

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Uma loja a recomendar a quem sente a necessidade de voltar às origens, onde esse regresso se faz embebido numa chávena de chá e acompanhado por biscoitos tradicionais.

 

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