Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Sex | 10.02.17

É mesmo por aqui que queremos ir?

Catarina Duarte

Sinto, no geral, a sociedade a contrariar a tendência da dependência das redes. Mas, de vez enquanto, apanho choques de realidade. Ontem, parei numa passadeira para deixar, uma miúda, passar. Antes de parar, não reparei muito nela mas, depois, quando ela não se atravessou à minha frente no momento em que o devia ter feito, espequei-me a avaliar a dita. Era absolutamente normal. Porém, - reparei - a roupa era pouca para esta altura do ano, com clara compensação no batom escuro que usava. O que mais me chamou a atenção nem foi o kit escolhido para um dia de inverno, foi mais a razão pela qual ela não passou a passadeira que se prostrava à sua frente: a miúda, com pouca roupa para esta altura do ano e com demasiado batom para o meu gosto conservador, estava parada na berma da estrada, a fazer poses dengosas, à frente de um telemóvel, no meio da rua - língua de fora para cá, beijinho para lá, pernas enroladas, aperto no peito, mais uma língua de fora, mais um beijinho, num seguimento difícil de acompanhar mas que eu observada embasbacada – sempre (sempre!) com um telemóvel apontado a ela. Uns segundos depois, lá atravessou a rua, sem nunca olhar para os carros, sempre focada no telemóvel que trazia dois palmos acima da cabeça, enquanto vestia também - para além da pouca roupa e do batom exagerado - trejeitos sexys e poses empinadas.

Eu, depois de levar duas buzinadelas, lá acordei e segui com a minha vida.

De facto, a realidade centra-se, cada vez mais, naquele retângulo pequeno com que andamos todos os dias que, vamos combinar, de realidade tem muito pouco.

A minha dúvida mantém-se: é mesmo por aqui que queremos ir?

 

Estou aqui:

Instagram

Facebook

Qui | 09.02.17

Opinião - Jesus Cristo Bebia Cerveja de Afonso Cruz.

Catarina Duarte

afonso cruz.jpg

 

Sinopse: podem ver aqui - site da wook

 

Opinião: Há uns tempos (mas já em 2017) li o livro “Jesus Cristo Bebia Cerveja”, de Afonso Cruz. Não foi o meu primeiro livro deste escritor sendo que, o primeiro, por sinal, foi um livro que me desiludiu bastante - chamava-se “Os livros que devoraram o meu pai”. Porém, por estar constantemente a ouvir que era um escritor maravilhoso, aventurei-me num segundo.

Sobre o livro:

- Gosto muito do nome do livro;

- Afonso Cruz constrói brutalmente as personagens e leva a máxima “show, not tell" a sério – Porém, algumas personagens só serviram para fazer “ruido” sendo que não tinham propriamente importância na história;

- Não gostei de algumas passagens do livro; em contrapartida, já outras…;

- É um livro que fala sobre amor mas não de uma forma obvia – são assim os livros que, normalmente, gosto;

- Recomendo para quem se quer iniciar em Afonso Cruz embora tenha a noção que existem, certamente, livros bem melhores deste escritor.

 

Rating: 4/5

Qua | 08.02.17

São do meu tempo.

Catarina Duarte

É com admiração (e, assumo, alguma inveja) que olho para as pessoas que dizem “ah, ele não é do teu tempo – é da minha geração”, quando se referem a um cantor de que gosto muito.

É engraçado: imagino, esses cantores, sempre a preto e branco; vejo-os em palcos básicos (um pouco arcaicos, até), no tempo em que – suponho eu - os espectáculos se centravam apenas no músico e nos sons dos seus instrumentos; imagino-os, aos espectáculos, mais solitários, com menos “show”, desenhados de forma, agora que penso nisto, mais introspetiva.

Os anos passam, (passam mesmo, não é mais uma tanga que nos contam) e, do nada, passei a ter também os cantores do meu tempo, aqueles que vi e que ficaram marcados mas que já cá não estão para contar a história.

E, agora, quando os recordo, surgem sempre a cores: algumas vezes, com brilhantes; noutras vezes, enquadrados em poderosos jogos de luzes e ruidosas actuações.

Gostava que não fossem imaginados, pelas gerações que nunca viveram na mesma época que eles, a dois tons mas, sendo certo que é inevitável a existência do antigo na nossa memória, ao menos que encarem, quem com eles dividiu o mesmo tempo, com admiração e, caso não seja pedir muito, com alguma inveja à mistura. :)

 

Estou aqui:

Instagram

Facebook

Seg | 06.02.17

Diga Bom Dia com Mokambo.

Catarina Duarte

 

Dizer que é na recordação que estremecemos é, simplesmente, dizer mais do mesmo. Em muita literatura (e – também - em situações menos complexas como pequenos textos), escreve-se, divaga-se e, muitas vezes, medita-se sobre a memória – na verdade, a sua importância é enorme: é sempre ali que vasculhamos a saudade.

A memória é o que temos de mais valioso. Não me venham com tretas. O futuro até pode trazer projectos óptimos (claro que sim); o presente pode até estar a ser bom (claro que sim); mas o passado, bom, o passado é o núcleo da nossa célula, é onde, aquilo que nos compõe, está registado com rigor e precisão – e a memória é somente aquilo que nos permite recordá-lo.

Ando a ouvir, desde há uns dias para cá, na rádio, o novo anúncio da Mokambo. Lembro-me, sempre que o ouço, de todas as vezes em que fui acordada ao som do “Diga Bom Dia com Mokambo, Mokambo, Mokambo”, com carinho, pelo meu pai.

O meu pai, quando nós eramos mais novos, entrava sempre nos nossos quartos, a cantarolar esta música. Julgo que foi uma das formas que arranjou para que, pessoas com acordar difícil (eu!), fizessem logo ali, nos primeiros minutos da manhã, as pazes com o mundo. Rir: foi a rir que conseguiu isso porque era, de facto, verdadeiramente hilariante.

Depois de sair de casa, nunca mais tive ninguém que me cantasse o jingle do Mokambo, ao acordar. Em bom rigor, também não quero.

A memória, que é o que de mais valioso temos (repito!), é onde vou recuperar o meu passado e, com esta recordação, feita corretamente no meu código genético, tenho para mim, naquilo que sou, no meu tempo certo passado, todo aquele que foi registado com o meu pai.

 

Estou aqui:

Instagram

Facebook

Pág. 2/2