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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Ter | 07.03.17

5 comportamentos que não deves ter num concerto intimista.

Catarina Duarte

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Só pode: devo estar a ficar velha. Tornei-me uma pessoa (muito) intolerante em determinadas situações da vida.

 

No andar dos dias, muitas vezes, nem dou por isso mas, depois, paro num momento de real prazer e fico francamente lixada por atitudes que prejudicam o seu sucesso: a tua liberdade começa quando termina a minha – ouço muitas e muitas vezes.

 

Aninhada na voz do António Zambujo, no concerto de sexta-feira passada, estava isolada do mundo. Durante aquele momento (que durou 2 horas) era só eu, numa sala de estar, e ele (mais os músicos, vá) a refazer a música brasileira do meu Chico, num ritmo que era só nosso.

 

Na escuridão que criaram em determinados temas, estava totalmente absorvida, completamente virada para o espetáculo que ali se criava.

 

Porém, ainda há quem não consiga distinguir que um concerto numa sala como o Grande Auditório da Gulbenkian é um pouco (muito) diferente do que assistir ao Rock in Rio.

 

É diferente: tudo se ouve, tudo se vê, tudo se sente.

 

Listei 5 atitudes que ocorreram (ocasionalmente) no dito concerto e que me incomodaram (mas não me tiraram a magia do mesmo), precisamente porque me iam acordando do sonho em que me encontrava.

 

São estas:

 

- Tirar fotografias (especialmente, com flash) – Não foi uma vez, nem duas, nem três. Várias pessoas, ao longo do concerto, naqueles momentos mesmo intensos de tão intimistas que eram, disparavam flashs. Juro. Era quase uma tortura. Imaginem: sonho – flash; sonho – flash; sonho - flash;

 

- Cantar – Não me tomem por uma pessoa irritadiça – juro que sou afável e simpática. Mas, se não estamos num pavilhão a curtir aos altos berros uma valente malha, se estamos num concerto intimista, eu quero (mas quero mesmo) ouvir quem está à minha frente. Tive a infelicidade de ter atrás de mim duas meninas que, de forma exagerada, de vez enquanto diziam “adorooo esta música” (muito bem, sim senhora) e começam a cantarolar feitas doidas. Tudo óptimo (eu também adoro aquelas músicas todas – por isso é que fui) mas, infelizmente, não foi para as ouvir que comprei bilhete;

 

- Tossir desalmadamente nas notas baixas – No dia do concerto estava doente. Estava com gripe e também com umas alergias respiratórias que me deixavam a garganta irritada. Mesmo assim, julgo que 90% das vezes consegui cumprir: praticamente não espirrei (quando o fiz, tentei que fosse de forma calma e quase silenciosa) e tossi apenas só nas notas altas. Sei que nem sempre é possível mas, num concerto deste género, ouvir alguém ter um ataque de tosse quando se pretende absorver uma balada não é a situação mais agradável do mundo;

 

- Conversar com a pessoa do lado – Conversar mesmo. Conversar, partilhar, comunicar, pedir opinião. Conversar. Não é comentar ocasionalmente 2 vezes ao longo do concerto todo enquanto se bate palmas. Não! É mesmo conversar;

 

- Mexer no telemóvel – Eu sou um pouco viciada no meu telemóvel mas, porra, tenho saudades da época e que, quando íamos assistir a um concerto, íamos, de facto, assistir a um concerto. Mexer no telemóvel e vira-lo de lado na esperança que ninguém veja a luz, é só estupido. A luz vai aparecer e vai – muito provavelmente - (quase) cegar alguém. Aconteceu-me.

 

Larguem os telemóveis em momentos mágicos. Ganham mais vida, juro.

 

 

Seg | 06.03.17

António Zambujo - na Fundação Calouste Gulbenkian.

Catarina Duarte

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Na passada sexta-feira fui ao concerto do António Zambujo, na Fundação Calouste Gulbenkian. O tema deste concerto foi o seu álbum “Até pensei que fosse minha”, aquele que constitui uma homenagem clara a Chico Buarque, o maior letrista de língua portuguesa, segundo Zambujo.

O concerto foi maravilhoso, desenvolvido num ambiente muito intimista: o palco estava, aliás, alinhado com esse mesmo ambiente, pois fazia lembrar uma confortável sala de estar.

A sala de espetáculos, o Grande Auditório da Fundação, é, na minha opinião, das melhores salas que temos, tanto pelo conforto como pela acústica que nos fornece.

Fiquei à espera que Chico Buarque entrasse a qualquer momento, mas tal não aconteceu - não foi inferior por isso: nada disso.

Roberta Sá foi convidada e foi quem acompanhou Zambujo na música “Sem Fantasia”, à semelhança do que acontece no álbum.

Uma palavra para os músicos que acompanham Zambujo: é muito bom verificar que, num país que não prima propriamente pelos grandes apoios que fornece aos artistas, temos músicos tão validos, tão bons, tão perfeitos.

No final, tivemos direito a bónus: ficamos para a sessão de autógrafos e podemos trocar duas beijocas com o Zambujo (Zambas, para os amigos).

Gostei muito (mais uma vez).

Sex | 03.03.17

E sobre o La La Land?

Catarina Duarte

 

No Carnaval fomos ver o La La Land. Vou ter que aplicar a piada fácil: e que Carnaval!

 

Vou ser sincera: mesmo sem ter visto o filme, ela era a minha grande aposta – reparem como sou uma pessoa com bastante credibilidade! A razão é que eu ouvia falar tão, mas tão bem deste filme que, bom, pensava eu: as pessoas não podiam estar todas – TODAS - erradas.

 

Mas não. Não me convenceu nada.

 

Gostei da Emma Stone e de pouco mais.

 

O Ryan Gosling canta mal e dança mal. Para quem não sabe, o filme é um musical – parecendo que não dá jeito (diria mesmo: é o mínimo) saber cantar e dançar. Mais: senti que Ryan Gosling estava desconfortável na maior parte das cenas. Na minha opinião, foi francamente mal escolhido para desempenhar este papel.

 

Achei a história despegada, com cenas francamente chatas e com músicas demasiado normais para um musical. A história, essa, absolutamente banal e repleta de lugares-comuns (mas, sim, já percebi por algumas críticas que andei a ler que, bom, é capaz de ter sido essa a intenção).

 

Queria avançar com a minha opinião mas depois li este comentário, feito de forma sólida ao filme, e não há mais a acrescentar: concordo com tudo.

 

Partilho exatamente dos mesmos sentimentos do comentário que atrás refiro. Senti (também) que a minha frustração por ter criado demasiadas expectativas que não estavam a ser satisfeitas, originou que não conseguisse aproveitar o final do filme que, não sendo propriamente épico, até está feito de forma bonita e minimamente original.

 

Vejam e depois partilhem!

 

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Qui | 02.03.17

Os portugueses querem Arte.

Catarina Duarte

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Não aceito aquelas teorias que referem que os portugueses são analfabetos, que não sabem apreciar boa música, bons filmes, boas esculturas.

 

Acho que ainda há muito trabalho a desenvolver nesta área, como é óbvio, mas, se calhar, mais relativamente à forma de financiamento do que relativamente a outra coisa qualquer.

 

Julgo que precisamos de perder as peneiras. E quando falo na primeira pessoa do plural, refiro-me às forças pseudo-intelectuais que por aqui habitam, aqueles que só estão bem a ver filmes mudos ou esculturas feitas com dois pregos.

 

A cultura, para gerar mais cultura, tem que ser para todos. E, quando digo para todos, digo que tem que ser popular (se quiserem) mas, especialmente, acessível financeiramente.

 

Sou da opinião que tem que ser paga: os artistas (imaginem lá só isto) têm que comer e contas para pagar. E também precisam de roupa para vestir. E também precisam de luxos. Como todos nós. Logo, há uma estrutura para manter.

 

Perguntam vocês: como é que queres “fazer cultura” de forma acessível (financeiramente falando) e pagar a quem a cria?

 

Têm que haver financiadores. Mas financiadores a sério: privados mas, especialmente, públicos. É urgente encurtar a relação do Estado – Cultura. O Estado não se pode afastar da essência de uma sociedade, nem tão-pouco entregar na mão de privados a opção de escolha se determinado espetáculo vai avançar ou não.

 

Claro que o financiamento não se deve ser feito de forma cega: as contas, no final, têm que ser feitas, os projetos têm que ser avaliados e as conclusões devem ser tiradas.

 

Mas, uma coisa não podemos esquecer: o público, aquele para quem a cultura é criada, tem sempre a última palavra, é para ele que o autor cria, é por ele que o autor mostra, é através dele que o autor vive. Então, o público deve ser ouvido e sempre o último a decidir.

 

E há mesmo – garanto-vos – espetáculos exposições boas demais para não serem vividas.

 

(Ainda não consegui ver a exposição do José de Almada Negreiros, na Gulbenkian. São filas e filas e filas. E ainda bem. Os portugueses querem Arte.)

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