No outro dia, ao almoço, duas senhoras muito bem-postas, sentaram-se na mesa ao lado da minha. Nesse dia, decidi almoçar sozinha, uns raviolis rápidos, dado que estava com bastante trabalho e queria despachá-lo rapidamente.
Pediram, as senhoras muito bem-postas, uma pizza “para dividir” e uma salada também “para dividir”.
Durante a espera: uma falava, outra ouvia. Quando chegou o almoço: uma falava, outra ouvia. Uma falava mesmo muito, outra ouvia mesmo muito. Uma só falava, na verdade. Outra só ouvia, também na verdade.
As nossas mesas estavam próximas e as senhoras, uma que só falava, outra que só ouvia, falaram sobre os filhos, falaram sobre os netos, falaram sobre os médicos mas também falaram sobre os melhores spots da cidade. Sim, falaram sobre os rooftops da moda, sobre quais os que serviam boas sandwiches a acompanhar os cocktails de Verão - na verdade: uma delas falava muito; a outra, bom, a outra só ouvia.
De vez enquando, a que só ouvia, lá lançava uma frase suave que, depressa era abafada, pela resposta rápida da outra – a que só falava.
Estive ali, enquanto esperava e comia os meus raviolis, a ouvir a conversa entre a que só falava e a que só ouvia. E, depois, quando chegou a minha conta e me preparava para sair, percebi: há, de facto, uma tendência clara para nos enquadramos naquilo que nos é inato - falar quando somos de falar, ouvir quando somos de ouvir - mas isso raramente quer dizer que quem calado esteja, nenhuma coisa tenha para dizer.
Certa vez, uma amiga minha que vive nos States, disse-me que lá era normalíssimo a malta estar inscrita em sites do género dos do Tinder.
Na altura, lembro-me de ter comentado com o Ricardo que havia uma grande lacuna, a esse nível, no mercado português (sempre a pensar em negócios, eu sei). O nosso país, sendo um de brandos costumes, ainda teria que dar um grande passo ao nível da mentalidade para aceitar uma app do género.
A chegada do Tinder foi, porém, mais rápida do que aquilo que pensei.
Quando o Tinder surgiu (ou, entrou com força, em Portugal), no início, eu, rapariga um pouco conservadora a viver num país conservador, tinha muitas reticências quanto a sua entrada do nosso mercado. Uma coisa era pensar numa app do género de forma genérica, identificar aqui uma falha no mercado, outra, bem diferente, era concluir que, bom, era uma realidade demasiado “fora” que se estava a impor por estas bandas.
Com o tempo, foi-se verificando que, afinal, este país à beira-mar plantado, de país recatado já teve mais, e algumas pessoas que até conhecia bastante bem foram, entretanto, parar ao Tinder.
Fiquei naquele limbo, entre o que achava eticamente correto e as vantagens práticas da aplicação. Hoje tenho, sem dúvida, uma opinião, muito mais consolidada.
Para já, o que é que isto tem a ver com eticamente correto?O Tinder é um local. Virtual, é certo, mas não passa de um local, como podia ser um restaurante, um museu ou uma sala de congressos. O propósito da sua existência pode não ser o mesmo do de um restaurante, de um museu ou o de uma sala de congressos mas, na sua génese, não passa de um local.
Ora, eu sou casada e estou com a mesma pessoa há quase dez anos. Como calculam, recentemente, não me coloquei na posição de solteira mas sei que, quem o é na minha idade, não tem a vida facilitada, no que toca a arranjar um partner.
Isto sucede porque os grupos estão formados, os casais também mas, mais importante, os ciclos por onde andamos acabam por ser sempre os mesmos. Quanto atingimos a marca dos trinta, deambulamos, basicamente entre casa, trabalho, amigos de sempre e ginásio.Não temos, portanto, muita facilidade em conhecer pessoas novas porque os meios por onde nos movemos acabam por ser limitados.
Desta forma, de um modo totalmente direto e descomplexado, tenho a certeza que o Tinder, ainda que, bom, nem sempre tenha intenções de um casamento para sempre (nem é isso, na maior parte das vezes, que se pretende), pode (e deve) ser um meio para as pessoas se conhecerem e, claro, sairem dos círculos de todos os dias.
(Desculpem não haver muita diversidade de temas hoje)
Onde espero, nesta sala, as pessoas são todas muito diferentes. Visualmente, pelo menos visualmente, as diferenças são demasiado notórias. Tenho uma miúda fina e de saltos altos, com ar preocupado, à minhas frente, tenho uma senhora de cabelo desgrenhado, que remexe os dedos de forma impaciente, à minha direita, tenho um senhor que fala alto ao telefone, ao fundo da sala, tenho uma mãe ríspida que dá um iogurte, de forma igualmente ríspida, ao seu filho. Há mais, muitos mais: podia passar o dia a relatar as pessoas que entram nesta sala, à medida que aparecem, à medida que desaparecem.
Com as nossas diferenças visuais, eu também estou preocupada como a miúda fina, também estou impaciente como a senhora de penteado desgrenhado, também já fui ríspida, como a mãe que dava o iogurte ao filho, com a primeira senhora que me atendeu nesta repartição. Apesar das nossas muitas diferenças visuais, é incrível como somos todos mais parecidos do que aquilo que achamos possível.
Na repartição de finanças, onde estou, as pessoas à minha volta, onde espero, aguardam a sua vez agarradas ao telemóvel. Não sou excepção: o telemóvel, onde escrevo, permite-me também fazer o tempo passar. Não tirei o meu livro, de onde estava, por ser pesado, demasiado pesado, para o trazer comigo. Reclamamos da tecnologia (eu reclamo muito) mas acaba por ser - justiça seja feita - das maneiras mais leves de fazer o tempo passar.
Desde há uns valentes meses para cá que mudei drasticamente a minha forma de me relacionar com a comida. Sempre achei que comia minimamente bem (afinal, sempre preferi comida caseira, de tacho, com ar de casa) porém, vim a descobrir depois, não é bem assim.
A dada altura, porque não me sentia saudável (apesar de não estar propriamente gorda), senti que tinha que aprender a comer. Não queria avançar para um caminho alimentar sem quaisquer bases, com total desconhecimento, apenas seguindo a moda, que agora surgiu, da alimentação saudável.
Pesquisei e fiz um curso que durou bastante tempo mas que me deu bases sólidas (teóricas), com fortes fundamentos científicos a suporta-las, para conseguir ter uma alimentação equilibrada e sem qualquer carência nutricional.
Ocasionalmente, faço análises e está tudo ainda melhor do que no passado. Só posso concluir que estou no bom caminho!
Este fim-de-semana, vi um documentário (disponível na Netflix) sobre o tema da alimentação.
Chama-se “What the Health” e recomendo a 300%.
Na minha opinião, é um documentário extremamente completo que foca os pontos-chave que aprendi no curso e perfeito para quem quer ter algumas noções base de como funciona uma alimentação saudável.
Este documentário faz perguntas concretas, pela óptica do utilizador, se quiserem, e dá resposta objectivas.
Desmistificou, por exemplo, a questão da hereditariedade. Por exemplo, se a minha mãe morrer de cancro de mama e eu morrer de cancro da mama, significa que o cancro de mama é hereditário? Ou, quer apenas dizer, que, ao mantermos o mesmo comportamento, por exemplo, ao nível alimentar, estamos a criar todas as condições para que o cancro de mama se desenvolva de igual forma?
Explicou também, através das nossas características físicas (tamanho do intestino, dentição, etc), em que grupo nos encontramos e quais as características alimentares que devemos ter.
Obviamente, que, todo o documentário, mostra apenas um lado da questão e que temos que conseguir tirar o sumo da informação que pretende ser passada: analisar, com espírito crítico, o que ali é dito e fazer reflectir o melhor na nossa alimentação.
No final do dia, com a informação do nosso lado, com conhecimento de causa, com real cuidado com aquilo que se come, o que conta mesmo é seguir o nosso instinto e, claramente, que comer um bife de vaca todos os dias da semana, não origina nada bom.
Ontem fomos dar uma volta por Lisboa. O que começou por ser uma volta despretensiosa para ir comer um gelado no Nannarella (eu, grande apreciadora de gelados, não os achei assim grande coisa), acabou por ser um longo passeio pelas ruas da nossa cidade. É impressionante como é possível descobrir sempre novos recantos completamente incógnitos, mesmo para quem cá vive desde sempre, como é o meu caso.
Apesar dos muitos turistas (muitos mesmo) ainda é possível encontrar ruas bairristas e desertas. É difícil mas encontra-se.
A fé ao fundo do túnel:
Espero ter sempre a lucidez necessária para apreciar a beleza desta cidade maravilhosa.
"Prefere-se perseguir, proibir, castigar, calar. Mas a criminalização das opiniões pode ser contraproducente. Ficamos mais fracos no confronto de ideias", refere Rui Ramos, do jornal Observador.
Julgo que a liberdade de expressão é aquela coisa que toda a gente gosta de dizer que tem, porque é moderno viver num país livre e democrático mas que, bom, contas feitas ninguém está preparado para isso.
Na verdade, em Portugal, não se pode ter opinião. Felizmente, relativamente aos meus textos, quando os mesmos são de opinião, nunca tive ninguém a cravar fundo nas caixas dos comentários. Mas isso acontece. Acontece mesmo muito. As caixas de comentários dos jornais, das revistas, dos bloggers, dos humoristas, das pessoas que têm páginas públicas são um autêntico esgoto a céu aberto.
Com tudo o que as redes sociais nos trouxeram de bom, também trouxeram ao de cima, a lama peganhenta onde estão plantados alguns espíritos.
Bom, mas retomo hoje ao tema da liberdade de expressão porque são diários os exemplos em que as pessoas são fuziladas (não literalmente, claro) por tecerem um comentário. Reparem: por tecerem um comentário. Por muito grave que seja um comentário, nunca achei que fosse motivo de fuzilamento, ainda que não de forma literal.
Um dos últimos casos foi o de um médico, António Gentil Martins, (ia colocar aqui a idade dele – vá, tem 87 anos – mas, na verdade, não acho que, de algum modo, seja importante a sua idade) que disse umas palermices referente à homossexualidade. Com isto, surgiram logo achincalhamentos públicos, aberturas de processos e inúmeras crónicas (como esta) de defensores mas, principalmente, de agressores.
O grave, atenção!, não é a diversidade de opiniões mas, sim, o ódio e a perseguição a quem as torna públicas.
A democracia, aquilo que usamos como bandeira da nossa sociedade moderna, cosmopolita, cheia de turistas a brotarem, repleta de restaurantes requintados, a democracia, aquilo que nos deixa embeiçados como autênticos novos-ricos que nunca viram nada para além das bonitas terras de Trás-os-Montes, a democracia, aquilo que nos torna num país desenvolvido e culto, porque é bom e moderno sermos uma sociedade TOP, é um longo caminho a ser percorrido diariamente e, neste caminho, é necessário (e vital) o direito a manifestarmos uma opinião sem nunca termos medo das consequências.