É tão estranho este mês: queremos tanto que ele comece e depois desejamos tanto que ele acabe.
Julgo que temos uma relação meio bipolar com Janeiro: começa por ser muito amado (talvez o mais amado dos doze) porque, no fundo, é um mês muito promissor (as pessoas, nele, veem rasgos de esperança em cada um dos seus primeiros dias) mas, lá para o dia 15, a euforia abranda, o dinheiro não estica, este mês, de tamanho igual a muitos outros, apesar disso, é o mais curto.
É um mês de ressaca (sim, Janeiro, é um mês de ressaca) devido também a estas oscilações de sentimentos: muito amor e muito desgaste que gera muito cansaço e muita vontade de o ver pelas costas.
Quando o vemos acabar, sentimos alívio, como aquele alívio que se sente quando se sabe que o frio está a terminar.
O seu fim, do promissor Janeiro, representa o fim do frio.
Algumas pessoas acabam por conhecer o blog devido a dois textos meus: um que aborda as dúvidas que se tem no processo de compra de um leitor de livros digitais (eReader) (percebo porque, antes de comprar um, é natural as pessoas investigarem, por esta internet fora, as diferentes opiniões) e outro que fala sobre Vilanculos, em Moçambique (também percebo a pesquisa porque eu também a fiz antes de viajar para lá).
Deixo aqui os links diretos para o texto sobre o eReader (que, em abono da verdade, julgo que está bastante completo) e sobre aquela parte tão bonita da Moçambique (cujas fotos, meu Deus, valem tanto a pena ver).
Porém, no outro dia, reparei que muitas pessoas chegavam aqui através de um texto meu chamado “como apanhar gripe na própria casa”.
Fui investigar a razão disto acontecer, até porque, bom, não me lembrava de ser um texto particularmente bem escrito nem com grande utilidade, dado que falava da minha casa e de como ela é fria.
Concluí eu, após a minha árdua investigação (que durou 2 segundos, no máximo), que há quem pesquise “como apanhar gripe” e, consequentemente, venha cá parar, pois, este texto, surge nas primeiras opções, de forma bem visível.
A questão que se impõe é a seguinte: que tipo de pessoa é que pesquisa “como apanhar gripe”?
Não sei, mas agradeço-lhes as visualizações. Peço-lhes também desculpa porque, de certeza, que saem daqui desiludidos: o meu texto remete mais para o tema de como a minha casa é cheia de diferenças de temperatura do que para conselhos práticos para quem não quer ir à escola.
Posso estar a cometer uma grande injustiça mas sinto uma euforia generalizada com esta história do turismo em Lisboa. Uma euforia quase provinciana, para dizer a verdade: agora sim, pertencemos ao grupo das grandes capitais da Europa.
Eu sempre achei que Lisboa era a capital mais bonita da Europa e, no Mundo, também há poucas que lhe cheguem aos calcanhares. Digo-vos com conhecimento de causa: desde pequena que viajo com muita regularidade. Se o coração pode pesar nesta análise? Talvez, mas, no geral, acho que avalio bem, por isso, é pouco provável.
Mas, sim, não sou cega e reconheço que Lisboa cresceu muito nos últimos tempos: abriu-se para o Tejo, tornou-se mais bonita e luminosa, os turistas vêm verificar, com os seus próprios olhos, aquilo que, há anos, eu andava a dizer e que ninguém acreditava: não há nenhuma como Lisboa.
Agora: há uma grande diferença entre saber receber e perder a identidade. É este o ponto onde me foco sempre. E, infelizmente, sinto que esta Lisboa, a minha e, eventualmente, a vossa, está cada vez mais parecida com as outras, com as populares da festa, com as ditas “grandes capitais europeias” que tanto queremos almejar.
Aconteceu-me uma situação muito aborrecida, aqui há umas semanas.
Nessa altura, até dei o benefício da dúvida porque era daqueles restaurantes “modernos”, cozinha de autor, todo muito “para a frente”: o empregado de mesa dirigiu-se a nós a falar em inglês. Ao início, ainda pensei que o meu cabelo loiro e os meus olhos azuis (que não tenho) o podiam ter confundido e respondi-lhe que podia falar em português porque eramos portugueses, ao que ele respondeu “Sorry?”. Perante este “Sorry?”, repeti, em português, o que lhe estava a tentar transmitir. E o empregado do restaurante moderno, de cozinha de autor, todo muito “para a frente”, voltou a responder-me “Sorry?”. Se facto, concluí eu depois, ele não falava uma palavra de português. Não tinha sido, portanto, o meu cabelo loiro, nem os meus olhos azuis (que não tenho) que o tinha induzido em erro. Pedi-lhe, em inglês, que chamasse alguém que falasse português porque, por muito que domine a língua inglesa, pareceu-me completamente descabido e descontextualizado, que em Portugal tivesse que comunicar noutra língua que não o Português.
A situação ficou por ali.
Esta triste cena voltou a repetir-se, desde esse momento até hoje, mais umas duas vezes. A última foi ontem, num restaurante “de almoço” na Expo.
Não me parece aceitável e, talvez mais do que isso, parece-me altamente desrespeitoso para os portugueses, em geral, e para os lisboetas, em particular, que não se faça um esforço para respeitar a nossa tradição e a nossa história e, bolas, a nossa língua!
Aos perdermos as nossas raízes, Lisboa deixará de ser Lisboa. Passará, talvez, a ser parecida com Londres, com Madrid ou com Paris. Mas deixará de ser Lisboa.
Por muito que tenhamos hoje um lugar no mapa, não convém esquecer o que nos levou até ele: a nossa individualidade. Só isso. A nossa individualidade!
Não sei se é a sua educação com influência inglesa, se o facto de o seu pensamento rodar de uma maneira diferente da minha, mas sinto sempre que saio a ganhar quando ouço falar (ou leio) o Miguel Esteves Cardoso. Prova disso é o programa que passa, às terças-feiras, na RTP1. Era mesmo o programa que faltava. Conversa e conversa. Boa conversa. Conversa interessante. Sou viciada. Ele e o Bruno Nogueira fazem o “casal” perfeito.
Desde nova que leio Miguel Esteves Cardoso: o “Cemitério de Raparigas” e o “Amor é Fodido” foram o primeiro contacto que tive com o escritor. Não me lembro de nada. Mas lembro-me que me marcaram. Quero muito voltar a lê-los, agora com mais quinze anos em cima, para validar se me marcam da mesma forma.
Embalada na onda do (único) programa que consumo de forma quase obsessiva, fui ler o “Como é Linda a Puta da Vida”, um livro de crónicas.
E que bom que é! E, por serem crónicas, dá perfeitamente para conciliar com outras leituras.
A forma como os temas são abordados mostra que houve dedicação na pesquisa (e eu gosto disso), prova que foram passadas horas a ver diferentes perspectivas sobre o mesmo tema, transmite uma mensagem positiva sobre o que nos rodeia e envia-nos, em doses generosas, amor pela vida. Juro. As frases são cheias sem serem complexas, dão-nos informação sem nos massacrarem. Este livro é repleto de análises, sobre educação, humor, amor, amizade, e mais amor.
Nem sempre concordei com o que lá está escrito, o que é natural dado que não somos a mesma pessoa, mas é sempre refrescante beber a informação que sai de alguém que tem tanto para dar.
Leiam. Com tempo. Com calma. Mas leiam.
Já leram algum livro de Miguel Esteves Cardoso? Gostaram?
Por vezes, em ocasiões sociais brutalmente desinteressantes, apetece-me puxar o meu livro e reler as minhas partes preferidas ou, simplesmente, recomeçar a leitura onde parei.
Fico sempre fascinada com o facto de ser socialmente aceite brincar-se com o telemóvel, utilizado para mascarar o nosso tédio, mas, se sacarmos do nosso livro para tornar útil o tempo inútil, aposto que cai o Carmo e a Trindade. Na verdade, nunca tentei mas irei fazê-lo para fundamentar esta minha tese sociológica.
Entretanto, digo apenas: esta sociedade anda muito estranha, não anda?
Todos nós temos aquele amigo que adora escrever ou conhecemos alguém que devora livros e que gostava de perceber mais como eles funcionam.
Aqui está uma óptima sugestão!
Feito em parceria com a lindíssima Biblioteca de São Lázaro, em Lisboa, este Workshop vai ter a duração de 4 horas (das 15h às 19h), já no próximo sábado, dia 27/Jan.
Partilhem este Workshop de Escrita Criativa. São as últimas vagas!
Para mais informações enviar e-mail para escritacriativainfo@gmail.com.
Há pessoas que se sentem fascinadas por roupa, outras por pesca. Eu, de entre todos os meus fascínios escondidos, sempre me senti fascinada por portas e janelas. Talvez porque elas representam o acesso a um mundo privado, aquele que ninguém conhece, mas que todos temos curiosidade em conhecer.
Afinal, o que se passa nas outras casas?
(janelas de Évora)
Cruzei-me com este fotógrafo completamente por acaso e, com esta sua iniciativa, ainda mais por acaso.
Chama-se André Vicente Gonçalves e fotografa… janelas. Umas atrás das outras. Em Portugal e no Mundo.
A Sapo Viagens também escreveu sobre este projecto. Podem ler aqui.
O sucesso é muito relativo. É tão relativo que, num grupo de 10 pessoas, se lhes fosse perguntado o que é que, para cada uma delas, o sucesso representaria, de certeza que dali sairiam 10 definições de sucesso, totalmente diferentes, totalmente válidas.
Para quem escreve, arrisco-me a dizer que, possivelmente, o sucesso é ser lido. Ser lido por muitas pessoas. Julgo que todos os que escrevem não o fazem apenas para guardar, em si, os recortes das memórias nas palavras debitadas. Não! Quem escreve e publica, num blog ou um livro, tem, como ambição, chegar a mais e mais pessoas.
Mas, aqui é que é o ponto, escrever dá trabalho.Porque escrever não é apenas escrever. Escreve é ver, (mas é mais do que isso) escrever é observar e depois apontar e imaginar e sentir, é, muitas vezes, sentir o que se está a imaginar, é transformar a imagem e as emoções em palavras, em frases, é lê-las e odiar tudo o que se escreveu e é, também, querer desistir, querer desistir muitas vezes mesmo, é rescrever tudo, é salvar, e desligar e é, no dia seguinte, reler e não gostar e voltar a escrever e perceber que ainda não está perfeito.
Por isso, pela complexidade que a escrita em si encerra, há muitas desistências pelo caminho porque escrever suga-nos até ao tutano.
As pessoas iludem-se e desistem porque, no geral, as pessoas são seduzidas por uma ideia de sucesso que veem acontecer a quem se sacrifica diariamente em nome da escrita. Só lhes chega a ponta do iceberg, o produto final, aquele que é consumido, na maior parte das vezes, em 5 minutos, quando se está na sanita ou a fazer aquele scroll no facebook e esbarramos num texto cujo título até é aliciante.
Este sucesso, ou este reconhecimento, este texto escrito por nós, tem incontáveis horas de trabalho, muitas delas tiradas à família, aos fins-de-semana de praia ou de filmes, às noite bem dormidas e ao sono descansado.
Quem escreve e trabalha e vive tudo isto de forma séria, sabe bem do que é que eu estou a falar. E quem escreve apenas, não tendo outro trabalho, também sabe, porque escrever apenas nunca é escrever apenas: é um trabalho a vinte e quatro horas.
Procurem a vossa singularidade e trabalhem. Trabalhem muito. Para o sucesso poder fazer todo o barulho que ambicionam.
Há uns tempos, no instagram, após ter visto dois filmes de guerra, filmes clássicos, questionei se fazia sentido escrever sobre eles. São tão, tão, tão antigos que, pela surpresa da opinião, julguei já não fazer sentido.
Até fiz um daqueles questionários modernos, para avaliar a aceitação de um post sobre os ditos. Mas as pessoas disseram que sim, que valia imensooo a pena, que queriam imensoooo saber a minha opinião e, por isso, queriam imensooo que eu falasse sobre ambos (bom, se calhar, não foram assim tão calorosas mas isso não interessa nada).
Coloquei também os dois filmes à consideração sobre qual queriam que escrevesse. Como houve empate técnico, decidi escrever, lá está, sobre ambos.
Começo pelo The Killing Fields (Terra Sangrenta, título em português), porque foi também o primeiro que vi.
O The Killing Fields retrata a história relativamente recente (anos 70) do Cambodja que, infelizmente, passa ao lado de muitos ocidentais.
Aconteceu quando o regime do Khmer Vermelho, governo comunista, cujo líder era Pol Pot, assassinou, aproximadamente, 2 milhões de pessoas (um quarto da população do país), em quatro anos.
As pessoas eram enviadas para campos de trabalhos forçados, os chamados “The Killing Fields”, onde acabavam por morrer à fome, torturadas ou executadas. No meio desta reforma agrária, este regime totalitário e sangrento, perseguia minorias étnicas e intelectuais, assassinando qualquer pessoa que soubesse línguas ou que tivesse algum tipo de instrução.
O filme conta a história de dois jornalistas: um americano (Sydney Schanberg), correspondente do “New York Times”, e outro cambojano (Dith Pran) e, entre os dois, nasce uma bonita amizade.
Porém, Sydney, após a entrada dos Khmer Vermelhos, não consegue salvar Dirth que é, então, enviado para os “Killing Fields”.
Entretanto, Sydney regressa aos Estados Unidos da América, onde é galardoado com importantes prémios jornalísticos mas a ausência de notícias de Dirth não o deixa seguir em frente.
O resto não conto, apenas digo que é baseado numa história verídica e que nos dá uma noção muito real do que foi aquele que é considerado um dos maiores genocídios da humanidade.
O filme ganhou diversos óscares incluindo o de melhor actor secundário.