Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Seg | 30.04.18

Quanto valem as nossas amarras?

Catarina Duarte

amarras.jpg

 

Questiono-me muitas vezes se, as pessoas que somos, seriam as mesmas, se as amarras fossem outras. Provavelmente, sim. Tudo o que nos prende, tal como tudo o que nos solta, altera-nos.  

 

Quanto vale alguém que cancela o desejo de percorrer o mundo a viajar porque tem três filhos?

Quanto vale alguém que abdica da sua promissora carreira em prol da assistência a sua família?

Quanto vale alguém que anula o propósito de construir uma família porque pretende agarrar as oportunidades soltas, os casos ocasionais, as viagens inesperadas, os fins-de-semana de loucura, que a vida lhe dá?

 

Podemos cancelar, podemos abdicar, podemos anular, provavelmente, como já aqui o disse, somos as escolhas que fazemos, mas não nos remetemos ao nada por não as tomarmos, por direcionarmos o nosso querer por outras terras ou por alinharmos as nossos desejos por outros caminhos.

 

Bom dia :)

Sex | 27.04.18

Ser focada: esse objetivo difícil, árduo, mas possível.

Catarina Duarte

darts-155726_960_720.png

 

 

Às vezes, é difícil ser focada. E refiro-me, concretamente, aos meus objetivos no blog e na escrita. Eles, em última análise, são claros, sei muito bem quais são, não tenho quaisquer dúvidas, embora tenha também consciência que podem ser alterados, porque estão indexados a mim e, especialmente, à minha fase da vida. Alterar o que planeamos pode fazer sentido e, na maior parte das vezes, até faz.

 

Mas, quando refiro que temos que ser e, especialmente, estar focados é porque tenho consciência que é muito difícil ter a certeza que as nossas opções são as certas.

 

Nós somos as escolhas que fazemos e, muito possivelmente, só vamos colher os frutos mais tarde, por esta razão é tudo muito feito às apalpadelas, numa tentativa de não falhar muito.

 

No blog – como na vida, claro – temos que tomar decisões pois temos que decidir com quem trabalhar, sobre o que escrever, qual o caminho a tomar. Tudo o que fazemos passa uma mensagem e, através dessa mensagem, vamo-nos refletindo nos outros.

 

Que tipo de informação é que quero passar nesta plataforma? Esta será, talvez, uma das primeiras perguntas a ser feita.

 

E, depois, surgem os convites, os trabalhos e, com eles, (alguma) visibilidade, e é aqui que temos que nos voltar a analisar, verificar se estamos a seguir mesmo o percurso que traçamos, voltar a alinhar ideias e reposicionar-nos, se for caso disso.

 

Nada está errado, são apenas considerações sobre qual o caminho que escolhemos seguir.

Sex | 27.04.18

Muito mais do que a morte do Cimbalino e da Bica.

Catarina Duarte

Não é propriamente uma novidade que eu sou uma alma velha, num corpo, vá, já não muito novo.

 

Talvez também não fiquem surpreendidos se vos disser que sou uma pessoa bastante saudosista e que “saudade” é, na verdade, muito mais do que algo que sinto ocasionalmente: é mesmo uma das minhas palavras preferidas de sempre. Adoro a forma como remata nos nossos dentes o seu fim, num perfeito alinhamento do sentimento com a fonética.

 

O que talvez não saibam é que, muitas vezes, sinto saudades de coisas que, na verdade, não pertenceram à minha época.

 

Não me lembro de alguma vez algum amigo meu ter pedido um Cimbalino, em homenagem aos cafés tirados na máquina italiana La Cimbali ou de ter pedido uma Bica porque Beber Isto Com Açúcar era obrigatório.

 

Mas eram, ambas, palavras usadas com muita frequência e que hoje já mal se ouvem.

 

Acabamos por rematar tudo com um “café” e a coisa rola. Na parte que me diz respeito, tento dizer, na maior parte das vezes, “era uma bica, por favor”, primeiro, porque gosto de me por a jeito para a piada “era, já não é?” e, depois, porque perder a bica das nossas expressões, é algo para o qual ainda não estou preparada, mesmo que ela raramente tenha existido na época em que vivo.

Qua | 25.04.18

Temos que estar desconfortáveis para viver.

Catarina Duarte

escrever.jpg

 

Inicialmente, a minha ideia era referir que temos que estar desconfortáveis para escrever. Mas, depois, pensei melhor e, de facto, apesar de arriscado, devo dizer que temos que estar igualmente desconfortáveis para viver.

 

Vivemos montados na inércia. Tomamos algumas iniciativas, claro que sim, mas, genericamente, somos pouco arrojados nas nossas decisões. Damo-nos bem com o sofá que temos lá em casa, ele já está moldado ao nosso corpo, encaixa na perfeição na nossa anca larga e no nosso tronco fino, dali procuramos não sair, a menos que tenhamos fome ou vontade de ir à casa de banho.

 

Mas depois há momentos que acendem em nós aquela vontade inexplicável de realizar com rapidez, porque nos sentimos desajustados, porque estamos em ambientes estranhos, em ambientes que até nos magoam, como quando estamos sentados no chão a escrever um texto e, aos poucos, nos começa a doer as costas porque estão apoiadas na parede que é dura e fria, e depois nos dói a anca e as pernas porque estão esticadas para melhor apoiar a almofada, para melhor apoiar o caderno, e depois já não temos posição, mas a escrita avança rápida porque é só mais uma palavra, é só mais uma frase, é só mais um parágrafo, porque agora não podemos parar e temos mesmo que escrever e escrever e escrever, e as dores começam a ser pouco suportáveis, mas, ainda pior que as dores, são as ideias puderem fugir e depois, como é sempre, ser difícil encontrá-las e o prejuízo ser maior, muito maior do que uma pontada nas costas.

 

No final do texto, lá nos levantamos e seguimos para a nossa cadeira ergonómica, acendemos a luz que está montada de forma a que a sombra escorregue para o sítio certo, pois não convém que a nossa mão faça sombra na folha que pintamos, colocamos as pernas de modo a que construam um perfeito ângulo reto, de forma a que a postura fique correta e confortável, como quando estamos no nosso sofá, e seguimos fiéis à nossa inércia, escrevendo de forma alinhada, direcionada e sem erros mas remetidos à tristeza da permanente e dolorosa apatia.

Sex | 20.04.18

Não se pode confiar na Primavera.

Catarina Duarte

magnolia-3332600_1280.jpg

 

Hoje está mais frio do que nos últimos dias. A Primavera tem destas coisas: não se pode confiar muito nela. Eu já andava de sapatos sem meias, toda lampeira, senhora de mim, de nariz empinado, a olhar de cima para as pessoas que comigo falavam, até que a temperatura desceu, comecei a sentir uma relativa aragem nos meus tornozelos rechonchudos, senti-me mingar, reduzi-me a minha insignificância e voltei a calçar meias e botas. 

 

Para a semana, com o Sol a reaparecer, aposto que vamos todas a correr arranjar os pés, vai ser um trinta e um para arranjar vaga nos salões de beleza deste país e que, dois dias depois, vai cair uma carga de água daquelas com o objectivo concreto de esborratar os 20 euros que gastamos na pedicure feita numa qualquer hora de almoço apressada.

 

Não se pode confiar na Primavera, vive em permanente esquizofrenia temporal e arrasta-nos como se tivéssemos feito mal a alguém. São flores e folhas que nascem e surgem e aparecem mas também pés que já existem por aqui há uns anos e que, aproveitando o embalo desta altura, reaparecem agora aos nossos olhos para que, no dia seguinte, estes pés ao fresco recolham, todos tristes, à pacatez de um sapato. É toda uma instabilidade. Toda uma passagem para a minha parte preferida do ano: o verão.

Qua | 18.04.18

EUA - Boston - O que fazer?

Catarina Duarte

B86099CF-E683-4554-80B5-AB94C95A8365.JPG

 

Falar da minha experiência em Boston corresponde, em primeira instância, a falar sobre amizade, pois foi esse o grande motor desta minha viagem.

 

Mas depressa saltamos para o encantamento, porque Boston é, de facto, uma cidade que vale a pena visitar por tudo o que nos mostra mas, claro, por tudo o que fica por mostrar, o que só nos fornece mais pretextos para voltar (olha: e não é que rimei?).

 

Para começar, é uma cidade organizada, limpa e ordeira. E isso são motivos suficientes para me encantar (olha: não é que rimei outra vez?).

 

3D8343BC-7120-4800-B48C-62B6AE45ADF0.JPG

 

Provavelmente, o que mais gostei em Boston foi a sua capacidade de unir, de forma deslumbrante, edifícios recentes, espelhados e imponentes, com prédios de traça antiga e muito bem conservados.

Sente-se brio em todo o lado.

 

IMG_2581.JPG

 

0A9E1726-777D-4330-B46A-93E2873903BF.JPG

 

IMG_2582.JPG

 

É a maior cidade do estado Massachusetts, com bastantes pessoas e com algum trânsito, mas sem nunca se sentir aquela sensação crowded que se sente, por exemplo, em Nova Iorque.

 

Vamos por partes:

 

- Museus – Há muitos (e bons) museus em Boston e, por essa razão, escrevi um post só dedicado a eles. Podem lê-lo aqui.

- Universidades - É uma cidade com muitas universidades mas, claro, falar de Boston é também falar de Harvard ou do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Tive a sorte de conseguir assistir a uma aula de Ética, de MBA, em Harvard Business School e foi, sem dúvida, uma experiência única. Utilizam um método de ensino muito diferente do nosso onde a parte dedicada ao professor se resume a, mais ou menos, 10%. O restante tempo é totalmente focado nos estudantes que trabalham um caso previamente e passam a aula a discuti-lo, sendo o professor o moderador.

 

As fotografias seguintes são de Harvard Business School onde passei muita parte do meu tempo.

 

2501B233-BD3E-4FA4-AEB3-6A63AA58EB13.JPG

 

DED1B6C1-23C3-4E49-89AD-F7830FBB4F9E.JPG

 

IMG_2268.JPG

 

IMG_2303.JPG

 

IMG_2401.JPG

 

- Gastronomia - Quanto à gastronomia, há alguns pratos típicos tais como os Crab Cakes, os Lobster Rolls e os Clam Chowder (a famosa sopa). Para sobremesa, temos o Boston Cream Pie.

 

CFA37623-2D04-4F55-AB9A-8381DE2BD5EC.JPG

 

- Outros (igualmente importantes) - É uma cidade que se faz muito bem a caminhar, por isso, recomendo muito os passeios nas duas margens do Charles River (Boston e Cambridge). Importante também é perder-nos no Boston Common, um grande e relaxante parque. Para se fazer um Tour diferente (mas bastante informativo), recomendo o Duck Tour (que ganha, claro, toda uma relevância se for feito com crianças pois elas acham um piadão a um carro que também anda na água). Por último, e muito importante mesmo, visitar a Boston Public Library. De sonho.

 

6B45C4E8-0DE2-41C9-B56C-FAE2735D89D9.JPG

 

5BC69C53-3CB5-4737-B0AA-76FC6ACE14BB.JPG

 

0383F026-B7AA-4D8A-9D0B-B546A706AA50.JPG

 

A171424A-0983-4A5F-9BA2-ACBAAD53CF19.JPG

 

Ando a recomendar esta cidade a toda a gente. A TAP voa direto e a SATA voa com escala nos Açores. Vale a pena passar lá uns 5 dias com neve, para os mais românticos, ou com sol, para os mais práticos. Eu apanhei neve no primeiro dia mas, nos restantes, saiu-me sol, sol e mais sol :)

 

0AA77AAC-19FD-4C35-94F4-33840ADE86F9.JPG

 

Tenho consciência que o amor que em mim nasceu por esta cidade não se deveu apenas a todas as coisas boas que ela me deu mas também porque, para além do que trouxe, também deixei lá uma parte importante de mim. Por isso, tenho que voltar, mais que não seja para matar as saudades que sinto, todos os dias, desde há oito anos.

 

❤︎

 

Sigam-me no instagram @catarinalduarte

 

Ter | 17.04.18

Perdoamos de forma limpa.

Catarina Duarte

Perdoa-se a pouca bateria e perdoa-se até a falta de bateria.

 

Os despachos de conversa também são perdoados, estou a trabalhar, estou em reunião, estou a almoçar, ligo-te já, cinco minutos, dez segundos, as pessoas respeitam, as pessoas perdoam.

 

Passamos a vida a perdoar, mesmo quando achamos que não o estamos a fazer. Na maior parte das vezes, fazemo-lo de forma limpa, não nos sentimos ofendidos porque aceitamos, este perdão que oferecemos a quem nos despacha, como parte integrante dos nossos dias. Sim, de forma limpa é mesmo a expressão. Perdoamos de forma limpa.

 

A pergunta que salta do saco (onde, habilmente, juntamos as esperas e os segundos planos que perdoamos) é só: quando fazemos as contas, quantas prioridades temos?

Seg | 16.04.18

Opinião: O Mecanismo.

Catarina Duarte

o_mecanismo.jpg

 

Já terminei de ver a primeira temporada da série “O Mecanismo” que visa retratar a operação Lava-Jato, das maiores investigações de corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil, o esquema que uniu grandes empresas de construção a políticos, tudo bem mexido num grande emaranhado de crimes.

 

Entretanto, cercado de mediatismo, o ex-presidente Lula da Silva acabou mesmo por ser preso por ter ficado provado que o famoso triplex de luxo foi-lhe mesmo oferecido como suborno pela construtora OAS. Daqui saiu uma condenação de 12 anos de prisão.

 

Apesar de ainda haver uma (pelo menos) segunda temporada, tenho algumas considerações a fazer sobre aquela que é uma das melhores séries a que assisti nos últimos tempos.

 

Criada por José Padilha (Narcos, Tropa de Elite, entre outros), O Mecanismo consegue, com (julgo eu) algum grau de exatidão, retratar o nível de corrupção que existe no Brasil, não só em casos com bastante projeção como o Lava-Jato, como também na pequena corrupção, naquela que existe a um nível mais baixo, polvorizando o dia-a-dia.

 

Segundo o que a série transmite, a vida, no Brasil, como está montada, parece ter corrupção em muitos detalhes, e as pessoas agem e convivem com ela, com uma leviandade difícil de compreender. O esquema – ou o mecanismo – está criado. O que fazer para inverter o ciclo? É isso que fica a baloiçar.

 

Dá para perceber, minimamente, como é constituído o sistema judicial brasileiro e dá para concluir que é assustador de tão complexo que é.

 

Apesar de os nomes das personagens não serem os nomes das pessoas reais, é fácil (e óbvio) identificar as pessoas envolvidas (Sérgio Moro, Lula da Silva, Dilma Rousseff, Marcelo Odebrecht, entre outros). Fisicamente, os atores são muito parecidos e, quando não são, a caracterização dá bem conta do recado.

 

Aconselho a verem com legendas em português. Os diálogos, por vezes, são muito rápidos e com um sotaque muito cerrado o que pode ser difícil de acompanhar.

 

Dá-nos um bom enquadramento do que se passa atualmente, no Brasil.

 

Já viram? O que acharam?

Pág. 1/2