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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Dom | 08.04.18

Que horror! Que piada horrível!

Catarina Duarte

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 Ricky Gervais: Humanity - retirado do instagram da Comunidade Cultura e Arte

 

Acho que a minha relação com o humor não é muito diferente de todas as minhas outras relações. Mudou muito e hoje está bastante melhor. Digamos que está uma relação mais equilibrada, mais madura, se quiserem.

 

Para isso ter acontecido, obviamente, eu tive que dar espaço ao humor para existir na minha vida. Comecei a ouvir piadas de diferentes tipos de comediantes (ou humoristas, se preferirem) sem qualquer preconceito ou ideia pré formada e comecei a estar mais disponível para rir, sem culpaO que eu acho que alterou mesmo a minha mentalidade, foi começar a ouvir entrevistas e conversas sobre o humor.

 

O humor negro era mesmo um estilo que não apreciava. Não me conseguia rir de piadas relacionadas com o cancro, por exemplo. Achava que "era de mau gosto" brincar com este tipo de coisas. Sim, era mesmo isto que eu pensava.

 

Há, seguramente, razões históricas para nós, portugueses, não estarmos completamente livres quanto ao humor. A nossa conexão ao politicamente correto, por um lado, e a nossa tradição religiosa, por outro, são algumas das coisas que, provavelmente, justificam isso.

 

Uma vez, ouvi o Jel responder, à fatídica pergunta de quais os limites de humor, que o limite seria a piada. Achei inteligente a resposta.

 

Não, rir de uma piada de mau gosto não nos torna piores pessoas; não, fazer uma piada de mau gosto não nos torna piores pessoas. Parece estranho, eu sei, porque, na verdade, estamos a rir-nos da doença, do azar, da miséria ou, no limite, da decadência humana e isso, em nós, pesa de uma forma diferente, julgamos que estamos a criar um íman para que essas coisas, eventualmente, nos aconteçam.

 

Porém, se for uma piada mesmo boa, daquelas irresistíveis, não se prendam, estoirem em vocês toda a vontade de tornar aquele tema no mais divertido possível, devemos isso à desgraça de que, por vezes, somos alvo e, inevitavelmente, a nós próprios.

 

São piadas. Só. Não lhes devemos dar mais peso do que isso.