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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Qua | 30.05.18

Feira do Livro 2018 (as minhas compras e algumas sugestões).

Catarina Duarte

Foi no domingo passado que rumámos ao maior evento literário de Lisboa, a Feira do Livro. Tenho uma estima muito grande por este evento, no geral, e pelas suas farturas, em particular.

 

É difícil de explicar mas, como em todas as coisas boas da vida, em vez de nos pormos para aqui com floreados mais vale ir e senti-la.

 

Normalmente, aproveito a Hora H, durante a semana, onde alguns livros estão com grandes descontos e a Feira está com pouca gente, é uma altura óptima porque dá para passear e ver tudo com calma, mas, como no domingo não estava muito bom tempo, resolvemos passar por lá, na passagem do dia para a noite, e também se esteve muito bem.

 

Comprei dois livros e deixei lá outro para comprar depois. Ainda devo lá voltar mas, caso não o faça, esse livro já está devidamente encomendado a uma prima minha.

 

Estes são os que comprei:

 

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Já leram? Gostaram?

 

Bom, agora outro tema: e o que comprar? Para além de considerar a Feira do Livro um bonito passeio, o que é certo é que é lá que faço sempre as melhores compras de livros.

 

Como, muito possivelmente, vocês também, resolvi reunir 3 bons (óptimos) livros que podem adquirir nesta feira. Todos muito diferentes mas todos óptimos. Não sei quais são os seus descontos, muito menos se vão estar como “Livro do Dia”, mas é muito possível que os apanhem a bons preços.

 

Vamos lá então:

 

- "O que sabemos do amor", de Raymond Carver – É um livro de contos e foi, sem dúvida, um dos livros da minha vida. Podem ler a minha opinião aqui.

 

- “O segredo dos seus olhos”, de Eduardo Sacheri – O livro é optimo e o filme (refiro-me à versão argentina – também há uma versão americana muito fraca) é um dos meus filmes preferidos de sempre. Podem ler a minha opinião aqui.

 

- “O Imenso Adeus”, de Raymond Chandler – Estou a estranhar não ter escrito opinião deste livro. É um policial (só para verem como sou eclética) e dos melhores que alguma vez li.

 

Aqui ficam as minhas sugestões. Bons passeios e melhores farturas! 

Ter | 29.05.18

Eutanásia: foi chumbada a falta de debate.

Catarina Duarte

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Das coisas que mais me entristece em Portugal é a facilidade com que as pessoas têm opinião sobre temas complexos. Fazem-nos parece simples, leves e levianos quando, na verdade, são profundos, pesados e difíceis.

 

O Aborto e a Eutanásia, a título de exemplo, são dos temas mais fracturantes de uma sociedade (lembro-me de, quando se discutiu a despenalização do aborto, a sociedade estar completamente partida) e, por essa razão, é recomendável que sejam debatidos até à exaustão.

 

No caso concreto da Eutanásia, não estando este tema no pacote de medidas de nenhum partido, não era suposto que tivesse tido mais debate público? Não estou a falar da existência de um referendo - apesar de não o considerar, neste caso, nada despropositado, dado que obrigaria a haver a mínima discussão sobre o tema - mas apenas de mais conversas, mais dados, mais opiniões, mais perspectivas?

 

E não, argumentos do género “ser-se contra a eutanásia é ser-se antiquado e viver na idade média”, não servem para o debate. Ou, por outra, servir até servem, se o quisermos colocar ao nível dos assuntos simples, leves e levianos. O que não me parece que seja o caso.

 

Há, neste caso concreto, algumas coisas a ter em conta como, por exemplo, averiguar até que ponto se pode pedir a um médico que avance com uma eutanásia ou até que ponto os médicos aceitariam uma situação destas. Esta, recordo-me, foi uma das questões levantadas e esmiuçadas na altura do debate da despenalização do aborto. 

 

Parece-me igualmente relevante olhar para os exemplos de outros países onde, eventualmente, as coisas possam não ter corrido tão bem e, talvez, afinar a proposta de lei, tornando-a concreta e pouco ou nada dúbia. 

 

No fundo, ler, ouvir, discutir, debater e dar credibilidade a um tema íntimo e pessoal, lançando-o com seriedade e importância  porque, contas feitas, é um tema que fala sobre nós e sobre nós numa altura em que já pouco temos voz. 

Ter | 29.05.18

Dizem os outros.

Catarina Duarte

"É indiferente quem decida, tudo é desagradavelmente irreversível e neste sentido acaba tudo por se nivelar: o deliberado e o involuntário, o acidental e o urdido, o impulsivo e o premeditado, e a quem importam no final os porquês, e ainda menos os propósitos."

 

Assim Começa o Mal - Javier Marías

Seg | 28.05.18

As palavras que nos definem.

Catarina Duarte

Há pouco tempo descobri uma palavra espetacular e, depois de a descobrir, voltei a ouvi-la mais um par de vezes. A palavra é schadenfreude, uma palava alemã que visa definir o nosso sentimento de alegria perante o infortúnio de alguém.

 

Há, possivelmente, uma razão para saudade apenas existir em português. Aquela saudade preta, que nos vira ao contrário e que deixa a descoberto todas as nossas entranhas, amplamente enroladas sobre si mesmas. O preto da saudade, talvez colado ao fado, talvez colado à tristeza, define-nos, digo eu, como um povo quente. Ou, talvez seja mais acertado dizer, o povo quente que somos criou a palavra saudade para definir aquele sentimento insuportavelmente bom,  insuportavelmente doloroso, que nos caracteriza.

 

Provavelmente, por uma palavra ter muito peso, a sua criação apenas nasça da necessidade que determinada comunidade tem em exprimir-se.

 

Não deixo, por isso, de pensar porque é que a língua portuguesa tem saudade e a língua alemã tem schadenfreude.

 

Apesar de achar que schadenfreude até tinha lugar na nossa língua, não deixa de ser curioso.

Dom | 27.05.18

This is America – uma música e um vídeo com muitas mensagens para interpretar.

Catarina Duarte

 

A nova música de Childish Gambino, que apetece ouvir vezes sem conta, pelo seu ritmo e pelas suas rápidas passagens, tem uma série de mensagens subliminares sobre o racismo nos EUA. Quando vemos o vídeo que lhe dá corpo ainda nos apetece esmiuçar mais a letra e as imagens em busca de mais significados. Esta música fala-nos de discriminação racial e da forma como a sociedade americana está construída: num primeiro plano, tudo acontece para nos entreter; no plano lá atrás, muita coisa suja e lamentável sucede.

 

Depois de muito ler sobre o assunto e também depois de muito observar o vídeo, reuni algumas mensagens que a música pretende transmitir.

 

- O vídeo passa-se todo dentro de um armazém e a sua primeira imagem é a de um homem negro a tocar na sua guitarra de forma tranquila. Enquanto isto, Childish Gambino aparece e começa a dançar, utilizando, para isso, expressões faciais e físicas bastantes estranhas e forçadas. A dada altura, solta uma careta com um olho demasiado aberto, cujo objectivo é ligar-se à personagem Tio Ruckus, da série The Boondocks, um homem negro que não gostava de negros e que dizia ser branco;

 

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- Depois desta dança, Childish Gambino avança para junto do homem negro que anteriormente tocava guitarra e que agora está com um capuz branco na cabeça e, após fazer uma posição teatral, dispara uma arma, matando-o. A posição teatral remete-nos para a personagem Jim Crow, interpretada por Thomas D. Rice. Esta personagem era pintada de preto e tinha como objectivo ridicularizar a cultura negra. Jim Crow deu o nome a leis de descriminação raciais nos EUA. Após este homicídio, alguém retira a arma do crime de forma delicada, embrulhando-a num pano encarnado. Este acto, que se repete ao longo do vídeo, ajuda-nos a materializar como é que as armas são tratadas nos EUA. Este tratamento contrasta com a forma como o corpo, depois de baleado, é arrastado pelo chão do armazém;

 

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- A seguir, vemos um coro de gospel a cantar de forma alegre. Segundos depois, Gambino pega numa arma e dispara, matando-os a todos. Esta cena é uma clara referência ao ataque à igreja de Charleston, na Carolina do Sul, quando a Dylann Storm Roof lá entrou, em 2015, e matou 9 pessoas. A igreja era conhecida por lutar pelos direitos civis. É interessante o contraste entre a música do coro e os tiros disparados logo a seguir;

 

- A dada altura, surge um homem tapado de negro montando num cavalo branco numa associação clara à morte e ao inferno e à sua referência ao livro do Apocalipse;

 

- A última cena mostra-nos o cantor a correr, com olhar assustado, ao ser perseguido por um grupo de brancos. A mensagem a transmitir será, eventualmente, que no grupo onde ele sempre julgou pertencer, ele não vai nunca, na verdade, passar de um negro;

 

- O engraçado deste vídeo é que tudo de importante acontece lá atrás (assaltos, explosões, suicídios e muita confusão), num plano secundário, enquanto que o cantor, se mexe e canta, com o objetivo de nos entreter, tal como, na realidade, acontece. De um lado, temos a América dos shows, dos filmes e do glamour e, do outro lado, aparece-nos uma América negra e proibida, camuflada pelas luzes dos holofotes.

 

Uma música e o vídeo com muito simbolismo que vale a pena ver mais do que uma vez.

 

Já conheciam? O que acrescentam?

Qui | 24.05.18

Blog - nova imagem!

Catarina Duarte

 

Já repararam no novo layout deste humilde blog? Ainda está em transformação mas o essencial já cá mora.

 

Digam de vossa justiça. Gostam da forma como agora está organizado? Que conteúdos mais gostam de ler? Contos, atualidade, divagações?

 

Obrigada, desde já, pelas respostas e, especialmente, pelas vossas visitas diárias. Quem escreve, digam o que disserem, escreve sempre para alguém e é bom saber que aquilo que escrevo é realmente lido. Melhor ainda (e não quero ser lamechas) é saber que os meus leitores conhecem, gostam, partilham e voltam.

 

No meio de um universo de blogs, é bom saber que, de alguma forma, faço um trabalho diferenciador.

 

Obrigada.

 

❤︎

Qui | 24.05.18

De dor em dor.

Catarina Duarte

Passeamos de dor em dor, saltitamos alegremente, pelas nossas, pelas dos outros, pelas dos nossos.

 

Tento sempre enganar os meus pais quando alguma dor me aparece. Parece-me sempre que a dor que sinto reflete-se neles em igual medida, e isso aumenta a minha dor à medida que, neles, ela se vai alastrando.

 

Eu esforço-me verdadeiramente para esconder todas as dores e eles, sem qualquer esforço, agarram logo, pela minha voz ou pelo desalento que finjo não ter. É injusto. A dor reveste-se de injustiça – disso não há dúvidas.

 

Julgo que esta multiplicação de dores torna dolorosa a tarefa de ser pais. Deve ser, porventura, a mais dolorosa tarefa de fazer bem isto, o papel de pais.

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