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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Sex | 29.06.18

Onde andam as pessoas?

Catarina Duarte

Gostava muito de saber por onde andam as pessoas que mais gosto de ler. Há uma delas, aqui da blogosfera, que tem um livro publicado que nunca comprei, cujos textos me afetavam muito. Tem ascendência goesa, se bem me lembro, e a sua escrita é dura e muito certeira.

 

Esta coisa de nos habituarem à sua presença e depois desaparecerem faz, possivelmente, parte do encanto mas, a mim, encantava-me mais ter, ainda que apenas um, texto dela, por dia, para ler.

 

Vou comprar o livro.

Sex | 29.06.18

Os textos de opinião podem ser um bonito trilho cheio de sequoias.

Catarina Duarte

Não acho nada que os bons textos sejam apenas aqueles onde podemos ver a nossa opinião lá transcrita, sem uma única vírgula ter sido alterada. Talvez por isso tenha alguma dificuldade em perceber o efeito cyberbullying em textos de opinião. Se ainda não foram à caixa de comentários dos jornais online, quando se tratam de crónicas ou artigos de opinião, recomendo-vos vivamente a terem esta experiência: perdem logo toda e qualquer esperança que, eventualmente, ainda possam ter na Humanidade.

 

Os textos de opinião dão-nos a possibilidade de adquirir mais conhecimento sobre um tema e isso só pode ser encarado como algo positivo. Até vos digo mais: se é para eu ler a minha opinião, leio os textos que escrevo. O que procuro nos artigos que leio, de forma genérica, são pontos de vista nunca antes vistos (viram o que eu fiz aqui?).

 

Claro que, também nos textos de opinião, a identificação é importante, alguém colocar em palavras aquilo que pensamos ou sentimos, sim, claro, mas é tão melhor quando nos mostram um caminho que desconhecíamos existir. Quase como o que acontece quando estamos em viagem e alguém nos diz para irmos por aquilo que aparenta ser um empedrado, que nunca pensámos sequer que tivesse potencial, e se revela um bonito trilho cheio de sequoias.

 

E nós, que nunca tínhamos visto sequoias na vida e sempre jurámos que os pinheiros é que eram as árvores mais bonitas do mundo, ficamos atónitos e embasbacados e inertes com tamanha beleza. E por ali ficamos, de boca aberta a pensar: como é que eu agora vou justificar que, afinal, os pinheiros são árvores banais?

 

É isto que devemos procurar nos artigos de opinião.

Qui | 28.06.18

Sempre bem.

Catarina Duarte

 

Estou com a mania que hoje é sexta-feira. Deve ser o meu corpo a pedir para abrandar.

E gosto mesmo muito desta música.

E vocês?

 

Boa quinta-feira (e não me enganei no dia!)

Qua | 27.06.18

Somos todos caricaturas.

Catarina Duarte

Não convém não aceitar isto: as caricaturas são tudo aquilo que somos. Um aumento a que tentamos fugir, uma amplificação que muitas vezes que não nos agrada mas, lamento dizer, está ali tudo desenhado e referido.

 

Se alguma dúvida existir, vejam a vossa caricatura.

 

Sempre achei piada a caricaturas pois ajudam-nos a ver tudo aquilo que preferíamos evitar, as nossas orelhas assimétricas ou os nossos olhos esbugalhados, e isso traz toda uma nova noção ao que somos. Como quando alguém nos aponta o dedo ou o esfrega na ferida que, em determinadas alturas, não é tão-ferida-assim, são mais uns grandes olhos verdes que até gostamos de ver.

 

Não passam de desenhados, é certo, mas o seu exagero é algo que me atrai. O exagero sempre me atraiu. O humor não passa de exagero com identificação à mistura, atrai-me sempre saber como é que ele funciona e como é que nasce a convulsão do riso. Uso imensas vezes a palavra “imenso”, mais uma indicação de que sou fã do exagero, dá carga à história, vocês sabem, mesmo que o “imenso” exagero que orgulhosamente utilizo nada queira dizer para além de “duas ou três vezes”.

 

Quero com isto dizer que gostava de ter uma caricatura minha na minha sala? Não. Como em todas as coisas da vida, não nos faz bem chocarmos, diariamente, de frente com aquilo que não gostamos em nós mas, especialmente, com aquilo que nos engrandece.

Ter | 26.06.18

O melhor do mundo falha.

Catarina Duarte

quaresma ronaldo.jpg

 

Claro que é importante, para sermos considerados "o melhor do mundo", termos jeito para jogar à bola, para escrever ou para pintar, é o pontapé de saída, utilizando a gíria futebolista, para o sucesso, mas não é tudo. Nunca é tudo.

 

Há quem diga que o Messi é melhor jogador do mundo, como se a definição de “melhor” fosse algo linear e fácil de explicar, como se para classificar como “melhor” houvesse unicamente uma única opção, como se aquele que é “melhor” fosse aquele que tem mais características inatas, que lhe conferem a possibilidade de, de facto, o ser.

 

Ter apenas muito jeito para algo pode remeter-nos para o canto dos medianos e até dos medíocres. Ter apenas muito jeito para algo não nos dá medalhas, nem taças, nem o título de melhor do mundo. O exemplo claro disso pode ser Quaresma, entre tantos outros que passam pelo futebol, que passam pela escrita ou pela pintura.

 

Fico sempre ligeiramente incomodada quando apontam o dedo ao melhor do mundo no futebol, que, por acaso, é português, e que, por acaso, se mata a trabalhar para superar recordes atrás de recordes. Este incómodo que sinto pode, eventualmente, ter a ver com a minha noção de que, em Portugal, o trabalho não é valorizado e que somos ótimos a por defeitos em quem é bom, como se, ao mandar abaixo, nos estivéssemos, de alguma forma, a enaltecer.

 

É triste que tenhamos o melhor do mundo e que isso, para muita gente, não seja suficiente.

 

Fiquei triste pelo facto do melhor do mundo ontem ter falhado um penálti e jamais na minha vida ficaria feliz porque “isso prova que ele não é assim tão bom”. Porém, julgo que esta situação ainda o humanizou mais: ele, apesar de pertencer à secção dos especiais, falha.

 

É um exemplo concreto para quem quer também ser o melhor, um exemplo prático que nos explica que, para lá chegarmos, erramos pelo caminho, e que, no meio do que somos, no meio do nosso corpo trabalhado e da nossa cabeça bem agrupada, há sempre espaço para falhar porque é nessas falhas que nos vamos solidificando.

 

É mesmo nessas falhas que nos vamos construindo e verificando que o rótulo do melhor do mundo (tendo algumas características inatas que o permitam) pode estar mesmo à distância de todos.

 

E, sim, continua a ser triste que tenhamos o melhor do mundo e que isso, para muita gente, continue a não ser o suficiente.

 

Afinal, ele até falha penáltis.

Seg | 25.06.18

Bruno de Carvalho é um ex-namorado possessivo.

Catarina Duarte

bruno de carvalhgo.jpg

 (fotografia retirada do site do observador)

 

Apesar de ser Benfiquista e orgulhosa detentora de um red pass na Luz, não sou das que gosta de ver os outros clubes a arder. Já aqui o disse, a situação que o Sporting atravessa não dignifica nada o futebol português e não é, portanto, uma atitude inteligente gostar de ver um clube, ainda que adversário direto, a afundar-se uma e outra vez.

 

No sábado passado, assistimos com algum interesse ao desenrolar da novela rodada em Alvalade e, no final do dia, uma aragem de esperança encheu o Sporting. Eu e os Benfiquistas à minha volta ficámos felizes porque o Sporting tinha conseguido acabar de vez com aquela relação sem futuro com o seu Presidente.

 

Depois da derrota, Bruno de Carvalho pendurou as chuteiras e disse que, para ele, o Sporting tinha morrido para sempre. Não acreditei, claro. Quando alguém mantém uma relação doentia com algo, as palavras têm pouco peso, são sempre carregadas de intenções que raramente se concretizam.

 

Após a conferência de imprensa de ontem, onde ficámos a saber que o Sousa Cintra é o novo presidente da SAD sportinguista, depois de assistirmos a um discurso ligeiramente emotivo e bastante esperançoso, eis que Bruno de Carvalho surge das cinzas, foi como se não tivessem existido as palavras do dia anterior e, num texto agressivo, possessivo e nada conciliador, refere frases como:

 

“Calma. O homem do tremoço vai ser Presidente do quê? Da SAD???

Chega!!!!

Se é assim que o Torres Pereira quer então vou à luta!

Não Sousa Cintra, não és o Presidente da SAD pois para isso tens de passar por muitos passos.

Agora acabou. Querem guerra. Eu compro! Vou impugnar a AG e o Presidente da SAD ainda sou eu!”

 

Já foi expulso, os sócios do clube votaram para ele sair, a decisão é soberana e Bruno de Carvalho recusa-se a aceitá-la. Bruno de Carvalho lembra-me um ex-namorado possessivo, cujo relacionamento já terminou há muito e continua a perseguir a namorada, ignorando que já não é amado, insistindo em manter uma relação que será apenas unilateral.

 

Os ex-namorados possessivos são perigosos - para bem do Sporting há que manter uma distância de segurança, antes que algo de muito grave volte a acontecer.

Sex | 22.06.18

Opinião: O Meu Nome é Lucy Barton, de Elizabeth Strout.

Catarina Duarte

o meu nome é lucy.JPG

 

Este ano, só tenho lido livros fantásticos e este não foi excepção.

 

Este livro conta a história de Lucy Barton, uma mulher casada, com duas filhas, que passou a sua infância na miséria e, que, de forma totalmente inesperada, se vê numa cama de hospital.

 

Nessa cama descobre-se sozinha, o marido não gosta de hospitais e as filhas são demasiado pequenas para a visitarem, até que aparece a sua mãe, com quem não estava há muito tempo e com quem mantinha uma relação difícil. Nesse momento, esta mãe pouco carinhosa, dá-lhe tudo aquilo que ela precisa.

 

É um livro pequeno, que se lê de forma rápida, com muitas mensagens, e obrigatório para todas as mães e para todas as filhas que são ou vão ser mães.

 

As relações mães-filhas podem ser complicadas e, ainda que não o sejam com a densidade que este livro mostra, há sempre temas por resolver, pontos por esclarecer e que, verdade seja dita, nunca o vão ser verdadeiramente.

 

Para além da relação de Lucy com a sua mãe, o livro toca também na relação de Lucy com as suas filhas e na forma como a sua relação com elas, a dado momento, se começa a deteriorar. Remato, então, dizendo que, por mais que estejamos sensibilizadas para não ter determinadas ações que condenávamos na nossas mães, há outras que irão, certamente, surgir e afectar as nossas relações. Quando alguém me diz: “espero não cometer os mesmos erros com os meus filhos que os meus pais cometeram comigo”, refiro sempre “vais cometer outros”. E é mesmo verdade: cometemos sempre outros. A minha tia costuma dizer que “não há amor como o de mãe”. Sei que sim, que é verdade, mas, igualmente verdade, é a nossa facilidade em errar.

 

O que é que eu mais gostei do livro foi o facto de ele ser bastante contido nas palavras, na tentativa de transmitir uma ligeireza que não é real. É um livro limpo, no que à narrativa diz respeito. Gostei também das conversas leves que mãe e filha mantinham, quando relatavam o passado e faziam pontos de situação constantes com o que lá atrás tinha ficado, um passado meio esquecido mas sempre presente. Esta cumplicidade, apesar de toda a distância, física e mental, é interessante e bastante real.

 

Aparenta ser um livro liso e indolor mas cria-nos uma constante sensação de inquietude que me agrada. Acho que leio porque procuro situações que me tirem da minha zona de conforto e este não nos deixa, de todo, ficar indiferentes a cada nova página.

 

Recomendo!

Qui | 21.06.18

Estamos a enganar toda a gente.

Catarina Duarte

Portugal ganha a Marrocos e não convence nenhum português. Para piorar, está a chover em Lisboa; está calor mas está a chover.

 

Vim agora da Baixa, continua a enchente de turistas, tudo bem, não falo mais sobre isto, mas tenho de dizer que estavam todos de havaianas nos pés e chovia e estavam poças de água nos passeios e eles estavam de calções curtos e de manga à cava. Agora pensem no misto de sentimentos que trouxe de lá.

 

Estamos a enganar toda a gente: o tempo nesta terra, afinal, não é tudo aquilo que pintam e não jogamos assim tanto à bola como era suposto.

 

Temos o Ronaldo. Temos o Tejo. E os saldos já começaram. Nisto, pelo menos, acreditem.

Qua | 20.06.18

O debate é importante?

Catarina Duarte

Sou acérrima defensora de debate, mesmo quando ele atinge contornos de disputa porque não há tema que não valha uma troca acesa de argumentos.

 

Obviamente, que é possível debater de forma pacífica: 99% dos meus debates são feitos dessa forma – não se preocupem - mas aquele 1% que sobra sabe tão bem como o tiramisu do Bella Ciao, na Baixa.

 

No fundo, hoje e sempre, sou pelo desenvolvimento intelectual, pelo confronto de ideias, pela elevação do conhecimento mesmo que isso implique um ou outro arrufo. Sempre.

 

O Ricardo, ocasionalmente, julga-me muito assertiva e demasiado frontal. Percebo. Não sou das que encara a frontalidade como uma qualidade, sei que podia evitar alguns problemas se tivesse uma posição diferente na exposição de ideias. Mas depois, bom, depois penso sempre no valor e impacto intelectual de uma troca de ideias (que, às vezes, até pode mudar a minha forma de ver determinado tema), e concluo que vale sempre a pena.

 

Muitas pessoas não debatem temas, há famílias inteiras que se sentam a jantar à frente da televisão e que não se debruçam sobre a estruturação do conhecimento. Pais que não pedem opiniões aos filhos e filhos que vivem encolhidos nas suas vidas. São famílias inteiras que não constroem o conhecimento que se sabe ser cumulativo, e enfiam a atitude passiva que mantêm na vida nas conversas que raramente têm. Não estão habituadas a expor argumentos e rematam, de forma calma e sempre de voz baixa, um “vá, não se chateiem”. Ninguém se vai chatear! Todos vamos sair mais fortes.

 

Não pertenço a este tipo de família. Na minha família sempre se falou de cultura, de dilemas éticos, de religião e de política, sem qualquer tipo de pudor (este blog é muito o reflexo disso). Sempre se ouviu, interpretou e respondeu. E sempre se respeitou todas as opiniões.

 

Não entendo como é que querem ter uma posição que faça a diferença na vida (e no mundo), se não se começa a plantar essa semente em casa. Não entendo.

 

E vocês? Pagam para não se chatearem? Ou debatem tudo e mais um par de botas?

Ter | 19.06.18

O não-pedido de casamento.

Catarina Duarte

Podem-me me chamar ignorante (estou a brincar, não podem nada!) mas só descobri o Rodrigo Amarante há umas semanas (quem se lembra de Los Hermanos?). Nem quando vi, de forma non stop, a série Narcos fui ver quem tinha composto e interpretado o tema Tuyo.

 Ainda não sou grande conhecedora do seu trabalho, mas deixo-vos aquela música que, para já, é a minha preferida:

 

 

Já conheciam? O que recomendam?

 

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