Por razões que, em breve, entenderão, ontem resolvemos ver o Lost in Translation, um filme de 2003, de Sofia Coppola, com o Scarlett Johansson e a Bill Murray.
Já o tinha visto há 15 anos, quando estreou e eu era, na altura, tal como o filme, 15 anos mais nova e, lembro-me de ter gostado mesmo muito e pensei que esse gostar se ia manter para o resto da minha vida, não oscilando o quanto dele gostava, e que, cada vez que me perguntassem se tinha gostado, eu responderia que sim, que claro que sim, que a subtileza e aparente leveza do filme, se iam perpetuar na minha vida sempre na mesma medida, e que não havia necessidade de o rever e da opinião ser mudada.
Até que, ontem, o revi e, de facto, a nossa maturidade ajuda-nos a moldar a nossa opinião sobre determinados filmes.
Conta a história de uma miúda, Charlotte, recém-casada, que viaja para Tóquio com o marido que é fotógrafo. A sua ausência de sono faz com que se cruze com Bob, ator que está hospedado no seu hotel, durante a sua estadia em Tóquio, com o objetivo de fazer umas campanhas publicitárias de determinado whisky. Bob é casado, tem filhos, quase que luta, internamente, pela felicidade do seu casamento e é muito mais velho do que Charlotte.
Scarlett Johansson tinha 19 anos quando rodou o filme e Bill Murray andava por volta dos 50, esta diferença de idades, a par da figura esguia e controlada da personagem de Bill Murray, ajuda a dar consistência ao carinho e à relação ligeiramente parental, por um lado, e à tensão quase sexual, por outro.
Ambos sozinhos e também solitários encontram muitos pontos em comum e a relação que começa no bar do hotel começa a solidificar-se e a terem sempre mais e mais pontos em comum.
E agora o título: das várias interpretações que podem ter do título, a minha é que representa o paralelismo entre o impossível que é entender Japonês e o difícil que é viver relações, dos pontos de contacto entre as pessoas que as compõem e da forma como depressa se descosem e depressa se atam a outras, se o contexto assim o permitir, o difícil, então, que é entender arelação como um todo, como se a tradução se perca pelo caminho e metade da mensagem não chegue ao destinatário. O título é perfeito!
E depois, a razão pela qual vimos o filme nesta altura da nossa vida: Tóquio. É onde é filmado, e evidencia o contraste óbvio entre as dúvidas existenciais dos dois protagonistas e a gritante vida da cidade, com toda a sua luz, com todo o movimento.
E o fim? O fim não poderia ser outro. A maioria das pessoas, possivelmente, esperava um final diferente, um fim com mais densidade, talvez, onde a tensão, que entre eles existia, se consolidasse em algo mais… físico.
Eu já tinha, como já referi, visto o filme, mas não me lembrava como acabava. No decorrer do filme, sempre considerei que acabasse como acabou. Um beijo e cada um segue as suas vidas. Aquilo que se passou, só fez sentido naquele momento, naquele hotel, naquela cidade e a vida de cada um seguiu o seu curso.
De apenas gostar do filme, opinião que tive há 15 anos, passei a gostar imenso e estou muito motivada a vê-lo outra vez para poder passar de gostar imenso para amar.
Uma pessoa do Bloco de Esquerda, após apregoar de forma bastante efusiva que “aqui podia viver gente”, manifesta a sua intenção de vender um prédio em Alfama por € 5.700.00,00 que tinha sido comprado há quatro anos por € 347.000,00.
Após toda a polémica, não havia outro caminho para Ricardo Robles ou, talvez até fique mais certo se eu disser, para o Bloco de Esquerda, sem ser o caminho da sua demissão. Só peca por tardia, na minha opinião. Não sou propriamente analista política – longe, muito longe disso - mas parece-me óbvio que esta mancha no Bloco, como está, já vai ser difícil de limpar, pior ainda se Ricardo Robles continuasse como vereador da Câmara Municipal de Lisboa.
Nada contra quem compra casas, quem vende casas, quem faz dinheiro com casas. Chama-se Lei do Mercado. Agora, fazer disto bandeira de campanha e depois fazer exatamente o oposto?! Isto é escandaloso.
Os políticos têm que ser completamente à prova de bala. A sua imagem deve ser limpa, a sua história deve ser escrutinada até à medula e deve ser impossível de detetar o mais ínfimo desvio de carácter, porque ele não pode mesmo existir.
Dizes uma coisa e fazes outra? Deves ser penalizado. Deves demitir-te. Deves fazer a tua vida longe da política. Se não és exemplo de idoneidade moral não deves estar nesse cargo.
Estar na política significa servir pessoas e um país. Significa mexer com dinheiros que não são deles. Se alguém diz algo, deve pautar todos os seus comportamentos em linha com o que transmitiu, caso contrário, andamos todos a contribuir para que haja cada vez menos fé na política e julgo que não é mesmo esse o jogo que queremos jogar.
Ele estava a tocar, na baixa de Cascais, naquilo que devia ser um carron, uma música brasileira que eu ouvia muito quando era mais nova. Estava apressada, como habitualmente, e não escrevi nenhum pedaço da sua letra, como também habitualmente o faria, para depois a procurar quando tivesse tempo. Acreditei, como se vê, na minha memória, ignorei o quanto ela me trai, dia após dia, sempre mais um pedaço do que no dia anterior. Agora ando aqui às voltas, não me lembro do raio do nome. Estava com saudades dessa música, gostava de a ter ouvido com mais calma na baixa de Cascais e de ter tido tempo para escrever um pedaço da sua letra para depois a procurar.
Sempre apressada e uma música brasileira que me esqueci.
Chegou-me os ouvidos (ou, para ser sincera, ao e-mail), que a malta pode recomendar blogs, para a iniciativa Blogs do Ano.
Posto isto e, se estiverem para aí virados, e se quiserem muito recomendar este blog (podem recomendar mais do que um) é só seguirem este link, preencherem dois ou três campos, jurarem que não são um robot e já está.
Tem piada como, até para o humor, temos que ter maturidade e alguma consistência. Talvez seja necessário ter também algum estofo e muito poder de encaixe. Sim, poder de encaixe é fundamental para nos rirmos sem peso na consciência.
Agora que penso nisso, deve haver uma razão concreta para as crianças se rirem de forma desalmada quando se diz “cocó” e os adultos acharem só parvo. Será que o nosso sentido de humor se vai apurando ao longo da vida, afunilando, talvez, com o conhecimento que temos do mundo?
Bom, esta introdução para dizer que resolvi ver o “Último a sair”. Sim, esse mesmo: o que foi lançado há 7 anos.
Digo “ver” e não “rever” porque, quando foi transmitido, eu tentei, de facto, ver mas não consegui. Reconheço hoje que não tinha mesmo capacidade para perceber o que por ali se passava. Na altura, recordo-me, ri-me muito com algumas cenas, como aquela das amêijoas com o Bruno Nogueira com a Sónia Balacó e uma outra sobre os meninos em África com a Luciana Abreu e também com o Bruno Nogueira. Mas não consegui entender o alcance da coisa.
O Ricardo, na altura, adorou e estava sempre a dizer-me que eu tinha que lhe dar uma oportunidade. Foi agora.
Andamos a ver aos bocados e, de facto, está ali um trabalho muito bem feito – pareço as velhinhas, podem dizer. O texto é óptimo, muito bem construído e as personagens tocam nos estereótipos todos, é impressionante como nada foi descurado.
Está tão bem feito que percebo perfeitamente porque é que imensas pessoas tiveram dúvidas se, de facto, aquilo era uma casa típica de reality shows ou cenário ou ainda se aos diálogos eram espontâneos ou estavam expressos num argumento.
É-nos dado tudo aquilo a que temos direito: as entradas dos concorrentes na casa, as galas, as idas aos confessionários e até as tricas entre eles. São camadas sobre camadas na construção das personagens. Gosto especialmente da forma como o Bruno Nogueira tanto está a representar como, ao mesmo tempo, desmascara o programa, destruindo tudo, dizendo: “fui eu que escrevi isto”.
Pela densidade do programa (sem ele ser propriamente pesado), na medida em que está mesmo muito bem escrito, criado e realizado, vale muito a pena a visita. Julgo que este é um daqueles programas que vai perdurar no tempo, porque, enquanto nos lembrarmos de reality shows, é sempre algo que faz todo o sentido ver. Sim, é intemporal.
Os textos foram escritos pelo Bruno Nogueira, João Quadros e pelo Frederico Pombares.
Se não viram, vejam. É de 2011, não passaram assim tantos anos e, mesmo que tenham passado, é como eu dizia, as coisas boas podem ser visitadas em qualquer altura da vida.
Faz todo o sentido isto de continuarmos a maltratar o meio ambiente: temos mesmo que continuar a andar de carro para todo o lado, nesta relação umbilical e doentia que mantemos com este meio de transporte, a menosprezar a reciclagem como ninguém, a achar que misturam tudo lá nos depósitos onde destroem o lixo, como se estes pensamentos nos tirassem todo o peso da consciência pela falta de paciência que dispomos para separar o lixo, faz todo o sentido continuarmos a assobiar para o lado, como se isto não fosse um problema nosso, como se o problema fosse do Manel, do Joaquim ou, até mesmo, do Trump.
Temos que meter na cabeça, de uma vez por todas, que é um problema nosso. Estamos em Julho, estão nuvens em Lisboa, está fresco, aposto que ainda vai chover hoje. Calcei uns mocassins e uma camisa leve, estou de calças. Estamos no final de Julho. No final de Julho! A Suécia arde e as temperaturas rondam os 30 graus.
Possivelmente, queriam um texto mais inspirador para o dia de hoje. Não consigo, de todo.
Julgo que há comportamentos que são transversais a todas as mães. Normalmente, são comportamentos que maldizemos quando somos filhos e que, possivelmente, iremos repetir, exactamente como víamos fazer, quando formos pais. Aceitem isto.
A minha mãe, sempre que eu estou com uma voz mais fraca, porque acabei de acordei ou porque estou a trabalhar, pergunta-me se se passa alguma coisa. Durante anos, isso enervava-me (afinal, eu estava a limitar-me a existir), até que, há relativamente pouco tempo, percebi que é só e apenas preocupação e que nunca devemos ficar enervados com actos de preocupação.
Mas isto para dizer que há uma frase que me perturba muito. Tenho a sensação que basta uma pessoa normal transformar-se em pessoa-normal-modo-mãe para passar a dispará-la para todo (repito: todo) o lado. Não é dita só aos filhos apesar de, no que toca aos filhos, ser muito mais evidente.
A frase é “não estás com frio?” ou ainda “não estás com calor?”, como se o nosso termostato fosse regulado pelo termostato de mães que, como se sabe, está sempre avariado porque, por norma, as mães têm sempre frio.
Quando uma pessoa tem 5 anos, é perfeitamente compreensível que haja uma certa preocupação pela nossa temperatura e se nos sentimos bem no meio ambiente onde nos encontramos. Com 33 anos, há genuína curiosidade por este tema? Atendendo ao facto de que somos adultos, parece-me óbvio que, se estivermos com frio, o passo seguinte seja vestir o casaco. Ou, se estivermos com calor, o passo seguinte seja despir o casaco.
Em mim, o reflexo é: “eu não estava com frio até ao momento em que me lembraram que, se calhar, até está frio e eu percebi que, afinal, até tenho frio”.
Este não deixa de ser mais um acto de preocupação e, no que toca a estes tipos de actos, devemos sempre estar agradecidos, respeitar e fazer de tudo - de tudo - para que eles não nos apoquentem pois não passam, no final do dia, de actos de amor.
Em caso de dúvida, lembrem-se sempre: vão fazer exactamente o mesmo quando forem pais.
Infelizmente, sou uma pessoa muito pouco tolerante à falta de noção das outras pessoas. Juro-vos que tenho genuína pena que assim o seja porque acho que podia ser um bocadinho mais feliz.
As liberdades que afetam uns e que afetam outros, são mais do que muitas. E, hoje em dia, nem é preciso esforçarmos muito a nossa sensível vista para as detetarmos. Estão mesmo à mão de semear.
Não me passa pela cabeça levar música para a praia, mesmo que seja Fado ou uma qualquer sinfonia de Beethoven. Por mais que adore fado ou música clássica não faz – mesmo - sentido obrigar as restantes pessoas, que comigo partilham o areal, a ouvirem o que eu quero ouvir quando, sei lá, essas mesmas pessoas podem estar a dormir, a ler um livro, a descansar.
Não vou dar na cabeça aos miúdos (a miúdos, miúdos; não me estou a referir a miúdos-adolescentes-com-a-mania-que-têm-piada) que entram na água destrambelhados e molham toda a gente, enquanto fazem o festival dos salpicos, mas, se calhar, vou abrir os olhos a pessoas que fazem o seu show, que de privado tem muito pouco, no areal.
Na verdade, não comprei bilhete e, normalmente, nem gosto da música que por ali se dança, portanto, aqui faço um apelo, pensem nos outros. Não custa muito e se querem ouvir música, sem problema, levem uns auscultadores.
Está tudo bem quando a nossa liberdade não destrói a liberdade dos outros. E o descanso. E a vida.
Um bocadinho mais de civismo em espaço partilhados e, seguramente, éramos todos mais felizes.