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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Ter | 30.10.18

Eu sou a favor da liberdade. Mas só quando me interessa.

Catarina Duarte

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Há uns dias, um tipo, que eu sigo no instagram e cujo conteúdo me agrada, partilhou uma série de insta stories a explicar que era alvo de preconceito. Ele é homossexual e vive com o seu namorado. Explicava então que, apesar de viver protegido pelo seu núcleo duro, agora que pretendia arranjar um empregada de limpeza, não o estava a conseguir, isto porque assim que elas se apercebiam que eles eram um casal homossexual arranjavam as mais variadas desculpas para não trabalhar. Referia ele, então, que o preconceito ainda existe de forma muito presente na nossa sociedade apesar de, muitas vezes, não nos apercebermos muito bem porque vivemos felizes na bolha que criámos.

 

Ele estava a ganhar-me com o seu discurso e eu até estava a concordar com ele até que referiu que, como medida contra a homofobia, discriminação e ódio, devíamos todos deixar de nos rir perante piadas homofóbicas. E foi aqui que ele me perdeu. Completamente.

 

Ora, do meu ponto de vista, este não é o caminho para se combater a homofobia e não se pode apelar à liberdade – neste caso, a que lhe interessava – castrando outra liberdade – a de expressão e de nos rirmos se disso tivermos vontade.

 

Há, de facto, piadas sobre tudo (e ainda bem): sobre velhos, novos, pretos e amarelos. Não acho bem proibir-se o riso e o humor, nem qualquer tipo de expressão, mesmo que o objectivo último seja, completamente, de louvar.

 

A homofobia combate-se através da educação e através da liberdade. É um trabalho diário e penoso, disso não tenho dúvidas, mas não se combate através da castração, seja ela qual for. É bom que tenhamos isto presente. Porque, com este  tipo de pensamento, é um pulinho até começarmos a criar censura à nossa volta quando falam do que não gostamos.

Seg | 29.10.18

Somos todos contra Bolsonaro?

Catarina Duarte

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Não, não somos.

 

Bolsonaro ganhou as eleições do Brasil e conseguiu esta proeza com mais de 55% dos votos válidos, o que representa mais de 55 milhões de votos. Por isso, só por isso, não respeitar que Bolsonaro ganhou as eleições do Brasil significa não respeitar a vontade de um povo, significa julgar-se acima da Democracia e isto eu nunca poderei aceitar.

 

Sobre as eleições brasileiras, mais do que perceber como Bolsonaro ganhou, a mim interessa-me saber como é que Fernando Haddad perdeu ou, para ser mais exata, como é que o PT perdeu. Sim, no final do dia, foi mesmo o PT que perdeu. Não estamos, como nunca estivemos, a falar de uma vitória da extrema-direita. Esta é, na minha perspectiva, a análise que interessa.

 

Para nós, que vivemos estas eleições, completamente, à distância, é muito fácil julgar e ir contra a decisão da maioria que decidiu. Somos fortíssimos a atirar pedras direcionadas às cabeças dos votantes, temos a pontaria treinada, não nos falha uma, e somos igualmente bons a tecer comentários do mais baixo nível possível, como aquele que Margarida Martins, presidente da Junta de Freguesia de Arroios, fez quando sugeriu que os brasileiros que vivem em Portugal e que votaram em Bolsonaro devem voltar para o Brasil para ali viverem a sua liberdade. Muito democrático, sim senhora.

 

Adorava ser uma pessoa cheia de certezas, aliás, quando abro as redes sociais, acho mesmo que sou a única pessoa em Portugal cheia de dúvidas. Todos votavam, sem qualquer dúvida, no PT. Parabéns! Fico feliz! Infelizmente, eu não sei. Não sei mesmo.

 

Felizmente, vivo fechada na minha bolha, respiro de forma pacífica a segurança e a liberdade que o meu país me proporciona, e nunca estive na ingrata situação de ter que decidir entre um partido corrupto e um tipo com ideais extremistas.

 

Felizmente, nunca vivi num país com a violência e com a corrupção do Brasil que me fizesse ponderar votar num tipo com ideias extremistas.

 

Felizmente, posso ir almoçar sem qualquer medo de ser assaltada e não preciso de andar num carro blindado com medo de levar um tiro na cabeça.

 

Felizmente, ainda acredito que a polícia e os tribunais não estão controlados pelos partidos de poder e posso aguardar, de forma pacata, as decisões dos julgamentos mais mediáticos.

 

Mas fico, genuinamente, feliz por saber que sou a única pessoa, com uma conta no instagram, cheia de dúvidas. É sinal que todos os portugueses que habitam e opinam nas redes sociais têm a certeza sobre como se vive no Brasil. Eu é que não tenho essa capacidade, a capacidade de me colocar realmente nos pés de um brasileiro, sentindo concretamente, sofrendo verdadeiramente o que todos lá sentem e sofrem. E também não tenho a capacidade de menosprezar a opinião e de ir contra os mais de 55 milhões de pessoas que votaram em Bolsonaro. É que eles têm muita força: a força da Democracia.

 

Seg | 29.10.18

JB - onde é possível encontrar (praticamente) tudo.

Catarina Duarte

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Um post um pouco diferente do habitual para vos falar de uma agradável surpresa que tive recentemente.

 

Como sabem, nutro um especial carinho por tudo o que sejam espaços de papelaria e livraria: para mim, livros, cadernos e canetas nunca são suficientes.

 

E foi, exatamente, no seguimento desta minha paixão que fiquei a conhecer a JB. A JB é uma empresa que começou por ser apenas comercializadora de artigos de papelaria mas que, entretanto, foi expandido as suas áreas de negócio. Hoje em dia, para além dos artigos de papelaria, é também possível encontrar na JB, jogos, brinquedos e maquilhagem (imensa oferta agora para o Halloween, por exemplo).

 

JB é uma empresa portuguesa, de Vila do Conde, e é possível comprar os seus produtos tanto online como fisicamente.

 

Chamou-me especialmente à atenção porque, esta empresa, não esquece a palavra solidariedade e, como tal, já doou, segundo informação dos mesmos, mais de 200.000 livros para diversas entidades, tais como o IPO Porto e a Cruz Vermelha Portuguesa. É impossível não ficar (agradavelmente) surpreendido com este número.

 

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Estes são os livros que recebi da JB - novidades literárias -, irei lê-los brevemente e depois escrevo opinião. Curiosos?

 

O site da JB é aqui e vale a pena a visita.

Ter | 16.10.18

Nas ruas por onde ando.

Catarina Duarte

Há sempre qualquer coisa de diferente, nas ruas por onde ando todos os dias.

 

Não sou eu que ando distraída, de olhar preso nas pedras escuras da calçada ou a evitar pisar as linhas que delimitam os seus desenhos. As mudanças estão a acontecer de forma rápida e a minha memória, na maior parte das vezes, não as consegue fixar.

 

Ando constantemente admirada: Olha que café tão giro! Olha que restaurante tão engraçado! Olha que jardim tão arranjado.

 

Pareço uma estrangeira na minha cidade. Tem sido diferente, sim.

Seg | 15.10.18

O início do Outono.

Catarina Duarte

Ficamos sempre em choque com o início do Outono. Eu fico, pelo menos. De uma forma geral, apetece-me que ele surja mas, depois, a logística da chuva depressa se transforma na chata logística de andar sempre carregada e eu perco logo toda a vontade de nele existir.

 

Os nossos pés, renegados para o fundo do corpo, sentem o aperto das botas. Eu sinto-lhes a dor e sou solidária com a mesma. Deve ser difícil viver, durante meses, de forma livre e desprendida e, de um momento para o outro, verem-se a viver na clausura de umas botas resgatadas ao Inverno passado. Vou deixar que recuperem do choque com calma porque, depois deste, ainda vem o do frio que traz as luvas e os collants térmicos e as camisolas de lã.

 

Ainda estamos no início.

Sex | 12.10.18

Companhia e vício.

Catarina Duarte

De noite ou de dia, ela abria muitas vezes o livro, a garrafa de vinho e o maço de tabaco.

 

Quanto mais os abria, viam os olhos que se encontravam cravados nas suas paredes, mais vontade tinha de os abrir, como se o seu vício não fosse apenas o do seu consumo, mas também o do gesto a que se habituou fazer.

 

Fazia para se acalmar ou porque não tinha mais tarefas para cumprir mas, na maior parte das vezes, para preencher o vazio preenchido pela solidão.

 

Os objectos fazem-nos mais companhia do que imaginamos. Fazem sempre mais companhia do que imaginamos.

Sex | 12.10.18

Em Linha Recta.

Catarina Duarte

Vale mesmo a pena ler este texto da Cristina Nobre Soares, do blog "Em Linha Recta":

 

"Nos últimos dias, tenho descoberto que para muitos homens e mulheres só a violação ( e de preferência daquela que deixa a mulher escavacada, que é para não haver dúvidas) é que merece ser discutida. Uma pessoa ser apalpada, perseguida, ouvir bocas porcas, ser assediada por alguém hierarquicamente superior, ser trancada numa sala, nem sequer é assunto, pois não havendo consumação, pode ser apenas fruto da imaginação de uma gaja mal comida. (...)"

 

Para ler o texto completo, ver aqui.

Qua | 10.10.18

Raras são as vezes em que interessa saber de quem é a culpa.

Catarina Duarte

Provavelmente, também já por aqui passaram leitores que, em tempos, eram assíduos e que, depois, se fartaram do que aqui escrevo. Como diz o anúncio: é normal mudar de ideias.

 

Comigo também acontece e, por isso, não guardo rancores!

 

Leio uma determinada pessoa, um colunista, uma blogger ou um escritor, por gostar da forma como expõe as suas opiniões, por apreciar a forma como escreve sobre o mundo ou, ainda, a forma como rabisca os seus devaneios.

 

No geral, o que me leva a ler alguém é sentir que saio sempre a ganhar. Enquanto sentir que o meu tempo está a ser bem empregue: está ganho!

 

E depois, bom, depois há um dia em que me apercebo que o rumo que está a tomar colide com o meu. E não é colidir no sentido de convergir. Não! Refiro-me aqui a uma orientação que nada tem a ver com a minha. Sinto o enfado cada vez que o leio, como se a relação revelasse o desgaste dos anos (às vezes, não passam de meses) de relacionamento.

 

Não interessa de quem é a culpa: se do colunista, da blogger ou do escritor. Talvez tenham sido eles que mudaram mas também não excluo a hipótese de que tenha sido eu. Não interessa – mesmo - apurar as responsabilidades do afastamento.

 

No mundo real, raras são as vezes em que interessa saber de quem é a culpa.

Seg | 08.10.18

Cristiano Ronaldo – quando os nossos sentimentos nos toldam as opiniões.

Catarina Duarte

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Seria de esperar que qualquer acusação que caísse sobre o Cristiano Ronaldo fosse alvo de inúmeras defesas. Tal como seria de esperar que qualquer acusação sobre Trump fosse apenas mais um argumento para o atacar.

 

Nós camuflamos, de forma mais veemente, os factos e, pior, a gravidade dos mesmos, quanto mais gostamos das pessoas envolvidas. Há uma grande tendência para defendermos os nossos, para irmos à escola descompor o professor porque ralhou com o nosso filho mal-educado.

 

Mas, se entendo pouco os pais que vão à escola ralhar com os professores quando deviam era ralhar com os miúdos, menos ainda entendo quando estamos a falar de uma acusação de violação que, aparentemente, devia ser legalizada em Portugal, tantas são as pessoas que consideram que ela é que “se colocou a jeito” ou “se ela subiu ao quarto dele, estava à espera de quê?”.

 

Podia usar o mais reles palavreado para explicar o que muita gente parece não entender. Talvez seja esse mesmo o problema: o mais reles palavreado ainda não foi utilizado para explicar a triste cena que alegadamente se terá passado naquele quarto de hotel. Também não será aqui que o vão ler. Vou-me ficar pelo politicamente correto (eu sei, mais do mesmo): quando alguém entra no quarto com um homem não quer com isto dizer que queira fazer sexo anal, oral ou que queira, sequer, ter sexo. Até se pode dar o caso de uma pessoa ter tido, numa primeira fase, essa ideia e ter mudado de ideias, logo a seguir. Basta que diga que NÃO, para ser NÃO. NÃO É NÃO.

 

Claro que há mulheres aproveitadoras (tal como há homens) e, embora não me pareça que seja este o caso, isso é totalmente irrelevante para o caso em análise. Se a pessoa em causa é bem ou mal formada, se é loira ou morena, se é baixa ou alta, ou se pretende extorquir mais ou menos dinheiro, é totalmente irrelevante para o que se discute.

 

Aqui, neste momento, discute-se um caso de violação e não o carácter dos intervenientes. Independentemente das intenções dela, se, de facto, ficar provado que ocorreu uma violação naquela fatídica noite de 12 de Junho de 2009, então, Ronaldo deverá cumprir o seu castigo, seja ele qual for. E que seja exemplar. E que sirva de exemplo a todos.

 

Homens e Mulheres, metam isto na vossa cabeça e respeitem a vontade do próximo.

 

Fico genuinamente triste caso se confirmem estas acusações contra Cristiano Ronaldo. Já escrevi muito, neste blog, sobre o quanto o admiro como trabalhador exemplar. Esta situação não lhe retira, por isso, qualquer mérito desportivo como disse, e bem, o nosso Presidente Marcelo, mas retira-lhe, na minha opinião, toda e qualquer dignidade e respeito que por ele possa ter. 

Qua | 03.10.18

Somos todos tão humanos que até chega a ser estranho.

Catarina Duarte

Admiro-me sempre como é que as nossas preocupações terrenas, algumas das quais que apenas existem por pertencermos ao primeiro mundo, que preenchem as nossas vidas, que lhes dão o ritmo a que estamos habituados, existem em situações espirituais, como um velório, por exemplo.

 

Pedir desculpa pelo atraso, ir tirar uma bica, vestir um casaco porque se tem frio, somos todos tão humanos que até chega a ser estranho.

 

Tão humanos, tão terrenos, como as preocupações que vestimos, como aquele casaco que vestimos num dia de velório mais fresco. Temos necessidade de cortar o cabelo ou de arranjar as unhas após uma cirurgia, temos necessidade de puxar para nós todas os afazeres mundanos e terrenos a que estamos habituados, como se tudo isto nos puxasse para a vida e nos devolvessem tudo aquilo que sempre tivemos.

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