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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Qui | 28.03.19

Profissões de Risco.

Catarina Duarte

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Há profissões de risco e, ultimamente, ando a sentir que a de criativos é uma delas.

 

Imagino a malta da Zippy, esticada nos seus cavaletes, a criar um coleção giríssima, cheia de cor, quase a pincelar o que a Benetton, em tempos, foi, todos galvanizados, felizes com a felicidade que uma roupa tão gira e divertida pode trazer.

 

E, depois, eis que, do nada, surgem meia dúzia de virgens ofendidas, com, claramente, demasiado tempo livre para divagar sobre temas gerais, a irritarem-se com… roupa unissexo? Juro que não entendo onde esta gente vai buscar energia para se preocupar com estes temas. Pessoas a indignarem-se e que juram, pelo que lhes é mais sagrado, nunca mais lá comprar uma peça de roupa – a sério, qual é a questão?

 

Leiam livros, vejam filmes, consumam cultura, passeiem por castelos, analisem exposições. Ou não façam nada disto e deixem-se estar sossegados. Mas, por favor, não façam um filme por tudo e por nada!

 

Está-se a tornar perigoso viver neste mundo. Já nem criativo ou estilista ou uma simples pessoa que, simplesmente, está a fazer o seu trabalho se pode ser, em paz e sossego!

Qui | 28.03.19

São as mulheres que, muitas vezes, criam os machistas.

Catarina Duarte

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(imagem retirada do site pixabay)

 

Começamos a história pelas mães e passamos para as mulheres. Independentemente da ordem, são, muitas vezes, as mulheres que ajudam a criar homens machistas, quando lhes passam atestados de incompetência sucessivos no que, por exemplo, à lida da casa diz respeito.

 

Fico sempre muito pasmada com alguns discursos que vejo por este mundo fora quando o tema é machismo, como se os homens fossem todos uns bichos-papões e as mulheres todas umas Madres Teresas de Calcutá. Há, de facto, muitos homens que são bichos-papões e muitas mulheres que são madres Teresas de Calcultá mas enquanto as mulheres continuarem com a postura de que a responsabilidade, de tudo o que acontece em casa, é delas, não vai existir qualquer progresso a este nível.

 

Quando percebo, à minha volta, as mulheres a adquirirem a obrigação de ir ao supermercado, de fazer o jantar, de dar banhos aos miúdos, de lavar a casa, de passar a ferro, de dobrar as meias, entre outras coisas, e a estas funções ainda juntam um trabalho normal, o trabalho de todos os dias, e eles chegam a casa e “estão cansados” e se deitam no sofá à espera que “puff” o jantar seja servido, concluo sempre que o machismo está, para além de profundamente enraizado na nossa sociedade, a ser alimentado, diariamente, pelas mulheres.

 

Acho muita graça quando dizem, orgulhosas, que “o meu marido ajuda muito lá em casa”. Acho graça, pronto. Porque é uma frase machista, porque quem a diz não se apercebe disso e porque a usa para enaltecer quem com ela vive mas não se apercebe que “ajudar não é fazer” e que a responsabilidade de executar continua a ser da mesma pessoa (da mulher) e que o marido só vai lá – quando vai – dar uns toques.

 

Ficam felizes quando, no final do jantar, os maridos ajudam a por a louça na máquina, enquanto elas, depois de terem feito o jantar, reveem os TPCs dos miúdos e ainda dão um avanço na roupa que está a estender na corda.

 

Se querem mudanças na sociedade, no que ao machismo diz respeito, antes de virem pregar para a Praça Pública que há imensos homens machistas no mundo (sim, claro que há), façam a mudança em vossa casa, expliquem aos vossos maridos que “não há ajudas, há fazer” e, principalmente, eduquem os vossos filhos e as vossas filhas tendo por base a igualdade no comportamento.

 

Vão ver que os homens depressa deixam de ser os bichos-papões que tanto por aí anunciam e passam a ser pessoas normais. Sim, vai ser incrível.

Qua | 27.03.19

Tangerinas e gravidezes.

Catarina Duarte

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Quando a descasquei, a tangerina deitou um cheiro muito ácido, tão ácido que duvidei se seria mesmo uma tangerina. Tem sido uma das características desta gravidez, esta vontade incontrolável de comer citrinos: tangerinas, laranjas, clementinas, marcha tudo sem grande critério – tudo, menos limões.

 

Neste Natal em que estive grávida, troquei um livro que me ofereceram pela girafa Sophie e o Ricardo trocou um frapé que, afinal, já tinha, por babygrows quentinhos tamanho zero e um: os recém-nascidos têm muito frio, dizem. Nunca tinha trocado livros sem ser por livros e o Ricardo nunca tinha trocado nada relacionado com álcool sem ser por álcool.

 

O último dia do ano, quando fizemos 24 semanas de gestação, foi festejado a ouvir Ornatos e The National. Festejamos os três. Tirámos, nesse dia, muitas fotografias na praia porque, final do ano que se preze, tem sempre muita areia e infinito mar, mesmo que as temperaturas não ajudem à vontade de lá mergulhar.

 

Eu, que até sou uma pessoa de sorriso fácil, fico admirada com a minha liberdade de felicidade. Gosto desta expressão: liberdade de e pela felicidade. Passei esta gravidez a rir desalmadamente; não escolhem agora, estas minhas gargalhas, os melhores momentos para se soltarem – imaginem estarem num Serviço de Finanças e alguém dizer uma piada mediana, sem especial cuidado ou critério, e terem uma grávida a chorar a rir. Tem graça assistir; se não forem meus amigos.

 

Foi o primeiro Inverno, este em que estive grávida, que foi passado sem frio e com as mãos e os pés quentes. Estive sempre bem, com este meu corpo a conseguir manter uma temperatura constante e agradável, para os dois habitantes que agora nele vivem.

 

Já estamos tranquilamente no nono mês desta gravidez feliz, e as tangerinas, mesmo ácidas, mesmo não sabendo a tangerinas, continuam a ser comidas como nunca, quase sempre ao ritmo dos Ornatos e dos The National e de uma ou outra gargalhada que se solta na altura mais imprevisível.

Ter | 26.03.19

Opinião: O desaparecimento de Madeleine McCann - série documental.

Catarina Duarte

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Este fim-de-semana, acabámos de ver a série documental, disponível na Netflix, sobre o desaparecimento de Madeleine McCann. Reconheço que talvez, devido à minha situação de grávida, não tenha sido a melhor altura do mundo para ver algo relacionado com desaparecimento de crianças mas, enfim, a curiosidade foi mais do que muita.

 

Este documentário, composto por 8 episódios de, aproximadamente, 50 minutos cada, explora, de forma cronológica, as diferentes teorias que foram servindo, ao longo dos anos, o desaparecimento da miúda inglesa, enquanto passava férias com os pais, os irmãos e mais uns amigos dos pais, na Praia da Luz, no Algarve.

 

Esta série documental fala sobre as várias pessoas que foram constituídas arguidas ao longo do processo, os vários julgamentos e as diversas teorias, algumas delas bastante mediáticas, sem nunca, no entanto, se verificar uma tendência/opinião forte sobre o tema. Penso, talvez, que o seu objectivo principal seja expor toda a informação disponível sobre o tema e não criar uma opinião.

 

Algo que salta logo à vista é o facto dos pais de Maddie não entrarem no documentário apesar de, ocasionalmente, aparecerem imagens suas. Segundo li, a razão desta tão importante ausência deve-se ao facto da investigação ainda estar em curso e não quererem comprometer o eventual sucesso da mesma.

 

Eu já tinha a ideia que este caso ter sido muito falado há 12 anos atrás (sim, já passaram 12 anos) e esse é um dos pontos que este documentário toca: o mediatismo que este desaparecimento teve.

 

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Se desaparecem crianças com alguma regularidade o que é que torna este caso tão diferente? Na minha opinião, são as características do mesmo: trata-se de uma família de classe média-alta (os desaparecimentos de crianças, tipicamente, acontecessem em famílias mais pobres que veem na venda de uma criança a eventual saída de apertos financeiros), a passar férias, onde as pessoas estão leves e descontraídas, numa zona tranquila, no Algarve.

 

Fazem parte deste documentário diversos jornalistas conhecidos da nossa praça, tais como, Felícia Cabrita e a Sandra Felgueiras, e membros da polícia que nos habituámos a ver, como o Gonçalo Amaral.

 

Não digo que seja um documentário fácil de ver, deu-me sono em alguns dos seus episódios mas também me tirou o sono em muitos outros. Há imagens que, mesmo não sendo as reais e sendo construídas para efeitos do próprio documentário, nos perseguem noite após noite.

 

Há, no entanto, independentemente da teoria em que acreditamos, uma pergunta que fica sempre: porque é que alguém que deixa os filhos, num quarto a dormir, para ir jantar, e há um filho que desaparece, não é julgado pelo crime de abandono tal como, recordo, aconteceu ao casal chinês que deixou a filha no apartamento, em Lisboa, para ir jogar para o Casino?

Sex | 15.03.19

De ídolos a ódios.

Catarina Duarte

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Penso muito na forma como passamos de bestiais a bestas sendo que, claro, em algumas das vezes, até é de forma totalmente justificada.

 

O mais recente fenómeno foi o Michael Jackson, ídolo incontornável da minha geração, cujas músicas ouvimos vezes em fim. Não são novas as acusações que agora lhe fazem, à luz do documentário agora lançado: sempre se falou das mesmas, eu, pelo menos, sempre as ouvi; a minha reação não foi propriamente de espanto. Ele foi julgado, que eu recordo-me bem. 

 

Se nos afastarmos da personagem que nos habituamos a gostar, percebemos que há ali muita coisa que não bate certo: um homem negro que faz inúmeras operações estéticas para se tornar branco, um homem que cria um rancho no meio do nada chamado “Neverland”, uma espécie de parque de diversões mas em formato estranho, enfim, podemos até aceitar, podemos até já estar habituados a estas excentricidades mas não podemos considerar isto como comportamentos normais. Claro que não revestem crimes, mas que são atitudes estranhas, lá isso são.

 

Tenho sempre presente que todos os génios revestem a sua genialidade por pancadas fortes. O ponto é saber até que ponto cabem no que é aceite e, especialmente, permitido em sociedade, aquelas com as quais conseguimos lidar com relativa leveza e tranquilidade ou se, por outro lado, são completamente repudiadas, condenadas e que não cabem no conceito de moralmente correto.

 

A pergunta que se impõe sempre, para mim, é: até que ponto não devemos ter a capacidade de conseguir separar a pessoa da obra?

 

O mundo da escrita, por exemplo, está repleto de casos estranhos e de pessoas disfuncionais. O livro “Lolita”, obra-prima que tanto acarinhamos como sendo um dos clássicos de leitura obrigatória, foi escrita por Vladimir Nabokov. Até hoje se fala que ele, possivelmente, era pedófilo. Ninguém tem interesse em saber sobre a veracidade desta suspeita. Neste caso, indiscutivelmente, temos uma obra que se sobrepõe ao indivíduo.

 

Tenho sempre receio que, no que à arte se refere, quando peneirados todos os casos, uns tidos como aceitáveis outros com contornos criminais, alguns deles até julgados e condenados, não nos sobre muita gente para amar.

 

Qual a vossa opinião?

Qui | 14.03.19

Opinião: Fyre Festival – documentário.

Catarina Duarte

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Não sei se estão recordados de uma mega promoção feita a um festival de luxo a ocorrer numa ilha paradisíaca, nas Bahamas, que nunca chegou a acontecer? Pronto, é disto que trata este documentário que vale bastante a pena ver, cujo desfecho tem tanto de inacreditável como de previsível.

 

Vou começar pelo início porque ele próprio é também bastante engraçado: tudo começou em 2016, em Lisboa, no Web Summit onde foi apresentada uma aplicação que propunha unir influencers às empresas e, de forma a promover esta app, resolveu-se criar um mega festival que prometia juntar as maiores TOP Models do mundo, num cenário paradisíaco, com comida, dormida e dias de luxo. Tudo mega, tudo brutal, tudo de sonho: a ilha que tinha, outrora, pertencido a Pablo Escobar.

 

 

Kendall Jenner e Emily Ratajkowski, entre muitas outras, receberam enormes quantias para promoverem, através das suas contas do instagram, um evento nunca antes realizado, com uma magnitude nunca antes vista.

As influencers deste mundo começaram, em massa, a publicitar nada e o nada começou a ganhar ampla projecção: os bilhetes foram todos vendidos e o countdown para o grande dia começou.

 

Aos poucos, a organização foi-se apercebendo que era impossível organizar um festival com aquela dimensão, numa ilha sem as mínimas condições a vários níveis, entre elas, ao nível de saneamento, e foram tomando consciência que um festival daquela grandeza levaria bastante mais tempo (mais de um ano) para ser organizado – e eles não tinham esse tempo! O mais grave era que os bilhetes já estavam vendidos e ninguém parecia ter a capacidade de travar a bola de neve que se criou!

 

Passei o episódio todo a considerar que Billy McFarland, a pessoa que idealizou e levou para a frente até onde conseguiu este projecto, era um tipo-com-ideias-brutais-e-demasiado-optimista-para-ser-possível. Só que não: ele é mesmo um burlão, como se veio a confirmar nas últimas cenas do documentário.

 

A ideia da concretização do evento foi levada até ao dia do próprio evento, mesmo com tudo a acontecer que podia ditar o previsível fracasso do mesmo. Com a quantidade de camas claramente insuficientes para o número de participantes, quando já estava todo o caos instalado, eis que cai uma chuvada inacreditável, na véspera, inundando tudo.

 

Isto com as pessoas a meterem-se mesmo num avião para uma ilha que já não era aquela que pertencia a Pablo Escobar, a encontrarem nada do que tinham comprado e sem forma de sair da ilha porque não havia aviões para transportar toda aquela gente de regresso.

 

Vejam. Como disse lá em cima: tem tanto de inacreditável como de previsível. Disponível na Netflix.

 

Nota: há um outro documentário sobre este festival chamado Fyre Fraud que não está, porém, disponível na Netflix.