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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Sab | 20.04.19

Representará a partilha da propriedade intelectual o maior acesso que damos à nossa privacidade?

Catarina Duarte

Num mundo de partilha constante, onde as linhas entre o que devia ser partilhado e aquilo que devia permanecer privado são cada vez mais difíceis de definir, deparo-me com esta nova geração de miúdos, agora com 10/11 anos, que cresceram com a sua infância lançadas nas redes sociais. Sigo estes tais blogs, gosto das roupas que alguns vestem e retiro ideias de decoração, mas não deixamos todos de ser mirones de outras vidas, das partes que nos permitem aceder, é certo, mas sempre infiltrados, num acesso quase indevido, no que, algumas vezes, penso que devia pertencer às quatro paredes privadas.

 

E depois leio tantos artigos de opinião, tantos blogs de, lá está, opinião, de pessoas que pensam e se debruçam sobre os temas, vejo tantos debates televisivos, entretenho-me com tantas ­cronicas e formas de pensar diferentes da minha e julgo conhecer todas aquelas pessoas que se passeiam nas lides opinativas.

 

É certo que não lhes conheço os filhos, não sei o que vestem ou como decoram as suas casas, não conheço os sítios da moda que frequentam pois não os têm escarrapachados nas suas redes sociais. São estranhos onde, no máximo, lhes conheço a cara que dá suporte às linhas que escrevem ou aos debates que frequentam. Mas não tenho deixado de me questionar: representará a partilha da propriedade intelectual o maior acesso que damos à nossa privacidade?

Sex | 12.04.19

No dia em que o meu irmão nasceu.

Catarina Duarte

No dia em que o meu irmão nasceu, numa clara antecipação no que toca às questões de igualdade de género da actualidade, os nossos pais ofereceram-me um carrinho de brincar e outro exactamente igual (mas aposto que mais giro porque há sempre um filho preferido!) ao meu irmão.

 

Reza a história que eu, então com três anos e tal, não liguei absolutamente nada ao carrinho, enquanto que o meu irmão, bom, o meu irmão também não: juram os meus pais que não se mexeu um centímetro do berço onde estava enrolado.

 

Quando o meu irmão cresceu, lá se entreteve com todos os carrinhos que quis enquanto que eu lhes continuava a ligar perto de zero; mantinha-me mais preocupada com as questões capilares das minhas barbies.

 

Parece que Cristiano Ronaldo está enrolado em nova polémica quando decidiu fazer algo com o filho mais novo que, bom, eu consideraria normal mas que, aparentemente, a comunidade já não: jogar futebol.

 

Um crime, eu sei.

 

Para quem não está a par, o nosso melhor do mundo colocou uma vídeo na rede social instagram, onde dá uns passes para o filho que, com apenas um ano de idade, lhe devolve a bola de forma certeira e ritmada. Escuso de dizer que lá surgiram as virgens ofendidas costumeiras porque a filha dele, que também por ali se encontrava, de certeza - DE CERTEZA – que queria entrar na brincadeira, que lhe foi, claramente, vedada essa oportunidade por ser rapariga.

 

Ora, parece-me que há duas formas de ver este assunto: a primeira, a forma que é utilizada pelas pessoas que veem maldade em tudo, que é: “lá está este parvalhão a discriminar a pobre da miúda que só aparece nas redes a brincar com maquilhagem”; a segunda, que é a que eu prefiro, é: “fogo, este miúdo, com apenas UM ano de idade, vestido com um babygrow (ou algo similar) com cara de ser bastante escorregadio, já dá passes tão certeiros, vai para a frente e para trás sem escorregar ou vacilar um centímetro; isto ou é genética ou é viver todos os dias com bola nos pés”.

 

Não me parece sensato permitir bolas apenas a rapazes e barbies apenas a raparigas MAS isto não quer dizer que não haja uma clara preferência de um sexo por uma coisa e outro por outra. Eu - se querem a minha opinião - acho que há mesmo! Eu não liguei ao carrinho que os meus pais me deram quando o meu irmão nasceu e o meu irmão, quando idade teve para isso, fartou-se de brincar. Nunca me foi vedado o acesso a eles mas havia uma clara tendência de um de nós para brincar com carros.

 

A imprevisibilidade das reações de quem nos segue nas redes sociais começa a ser demasiado castradora para quem quer partilhar, com a sua comunidade de fãs, pedaços da sua vida e, isto é mesmo verdade, não há maldade em tudo o que é partilhado.

 

Cristiano Ronaldo.jpg