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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Qua | 11.04.18

A escrita faz-se.

Catarina Duarte

A escrita faz-se dos dias e, especialmente, das noites. A escrita faz-se das ausências, sim, a escrita faz-se muito de ausências, mas também de trabalho, de falar com pessoas, e de descanso, quando esse trabalho e essas pessoas se agrupam em nós e descansam também elas.

 

A escrita é uma veia e uma artéria e um ventrículo e é, talvez, os nossos vários alvéolos e, com isto, consegui misturar vários sistemas que nos compõem e uni-los à escrita, viram?

 

A escrita faz-se dos dedos das nossas mãos mas também dos dedos dos pés, com as suas unhas tortas que, por vezes, encravam e doem, os dedos dos pés e as suas plantas, os pés que se arrastam e que nos unem ao solo que pisamos e do qual não nos conseguimos soltar. E, claro, a escrita faz-se das solas dos sapatos que usamos e gastamos e gastamos.

 

A vida faz-se dessas veias, artérias, ventrículos e alvéolos. A escrita faz-se dos dedos das mãos, dos dedos e plantas dos pés, e das solas dos sapatos.

 

E é tão difícil soltar-nos desta escrita que nos compõe e que em nós se agrega e se parte e se constrói.