Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Sex | 12.02.16

A felicidade pode vir num pedaço de guardanapo.

Catarina Duarte

Há coisas que me tornam uma pessoa feliz e não são assim tão poucas quanto isso. Podia falar do sorriso dos meus filhos mas não tenho filhos. Podia falar da suave brisa matinal, que me entra pela janela do quarto, mas, de manhã, a minha disposição não me permite apreciar nada. Podia falar dos abraços do meu marido mas, embora seja verdade, não tenho por hábito escrever, de uma forma direta, sobre o amor, sobre a felicidade, sobre a amizade, sobre todos esses nobres sentimentos – opto sempre por os revestir de histórias, para fazer passar a minha mensagem.

Mas hoje, apeteceu-me escrever sobre a felicidade. De uma forma mais frontal. De uma forma mais crua.

E ela pode, verdadeiramente, vir num pedaço de guardanapo. Acreditem em mim!

À saída do meu escritório, no sentido que levo para chegar a casa, há um largo gigante, onde os velhotes ocupam o tempo em jogatanas de cartas, resguardados, agora que chove, pelas copas das árvores. Nesse largo, é comum montarem-se tendas e palcos para festas bairristas. E é também comum existirem rulotes com farturas. Ontem, dei, de forma consciente, três voltas ao largo, à procura de um lugar, entre trânsito, chuva, buzinadelas e chamadas a confirmarem que estava atrasada para um encontro que tinha marcado, em busca da fartura que tinha que ser minha. Podia ter bebido o iogurte que trazia na mala. Podia ter esperado chegar a casa para tomar um leite com chocolate. Podia ter parado numa pastelaria e comido uma torrada com um sumo de laranja. Mas não. Estava obcecada pela possibilidade de comer uma fartura quente, coberta de “ponha muito açúcar, por favor”. E foi o que aconteceu. Estava, de facto, a ferver, foi salpicada de acordo com o meu pedido e fui-me deliciar para o carro, parado em quatro piscas, com a chuva a bater pesadamente nos vidros, o inferno da hora de ponta a passar-me ao lado, na parte de fora, e eu, rodeada da minha felicidade que, escrevam o que vos digo, pode mesmo vir, num pedaço de guardanapo.

Bom fim-de-semana!

18 comentários

Comentar post