A morte une as pessoas.
A morte une as pessoas.
A morte tem, inerente a ela própria, a capacidade de amaciar as amarguras passadas e as quezílias presentes. Soltam-se as amarras da tensão e as ternuras são refinadas numa espécie de escorredor de malha pequena, descendo, pó atrás de pó. Presas a esse mesmo escorredor, não conseguindo passar por entre os seus buracos finos, ficam apenas as mágoas antigas.
A morte une as pessoas.
Consegue neutralizar. Consegue extinguir. Consegue anular. Com a morte, todos nós conseguimos resfriar a memória, deixando apenas a cirandar as recordações, já saudosas de bons momentos, que ainda não tiveram nem tempo nem distância para se fazerem sentir.
A morte une as pessoas.
A morte tira-nos tudo. E, já que assim é, que, pelo menos, não nos tire a união. Este ano tem sido particularmente duro ao nível das mortes.
Mas a morte une as pessoas.
E ainda bem.