Analógico.
A minha prima contou-me que, lá no sítio onde está a fazer Erasmus, num dia em que fotografava em analógico, se cruzou com um senhor já antigo, que se dirigiu a ela visivelmente feliz por ver alguém tão jovem com uma máquina tão antiga entre mãos.
Rodeou-a durante um bom bocado, acarinhou o discurso e consigo imaginar o resto: a minha prima, com o seu sorriso sincero e os seus olhos verdes, embalada pela honestidade do senhor de idade, de certeza que sorria. Com timidez e cerimónia, o discurso fluiu e disse-lhe, então, o senhor de idade, que gostava muito de ter sido fotógrafo e que tinha pena de já não ir a tempo de concretizar esse sonho. Não sei quem era o senhor belga que a abordou, não sei qual a idade que o seu rosto cansado escondia mas, após ouvir esta história, fiquei ainda com mais certeza que jamais serei aquela voz arrastada pelos anos: a voz de alguém que se cruza com a juventude, com a desilusão da não concretização de um sonho estampada no seu som.
Jamais.