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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Dom | 10.04.16

­Aos amigos de toda a vida perdoa-se tudo?

Catarina Duarte

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Há uma linha, muito fina e subtil, que nos une aos amigos de toda a vida. Ela é franzina, quase imperceptível. Mas não é frágil.

Os amigos de toda a vida são uma estirpe de amigos de que gosto particularmente. Não os uno aos irmãos (só quem tem irmãos percebe que é impossível uni-los a alguém), mas uno-os aos quase-irmãos, que também é bem bom.

Os amigos de toda a vida são importantes, entre outras coisas, porque nós podemos ignorá-los. Com verdadeiro desprendimento e sem cerimónias. Vamos lá reconhecer: isto só é possível porque se tratam de amigos de toda a vida.

Aos amigos de toda a vida é-nos permitido brincar a sério. E elevar qualquer brincadeira ao seu expoente máximo: com humor profundo, negro e que magoa. Isto só é permitido a quem partilhou connosco as andanças instáveis da infância e da juventude. Aos outros, era logo relações cortadas, que "este gajo é um idiota e nunca mais o quero ver"!

Nós desesperamos os amigos de toda a vida. E, talvez mais importante, nós desesperamos COM os amigos de toda a vida. Porque podemos. Porque ninguém se chateia. Porque nós e eles existimos por causa disso mesmo!

É bom ter amigos de toda a vida.

Eles compreendem as nossas meias palavras e, agora dou-vos a melhor notícia: vão compreender sempre. Estamos afastados, deixamos de partilhar o dia-a-dia, mudaram de cidade, de país, de continente, de vida, o que quiserem! Mas eles estão lá. Está cientificamente provado que eles estão lá! (bom, fui eu que fiz esta experiência – se calhar, não conta muito para a ciência!)

Uma palavra mal colocada numa mensagem, uma palavra mal referida numa conversa, eles percebem, a sério que percebem, que algo está mal. Há uma cumplicidade inexplicável com os amigos de toda a vida!

À pergunta: aos amigos de toda a vida perdoa-se tudo? Consigo responder, com aquela certeza de quem tem amigos de toda a vida, que sim. Claro que sim. Como se perdoa tudo a um irmão. Porque, embora não o sendo, o facto de simplesmente existirem já os eleva a um patamar muito favorável: o do “quase irmão”.

Vou rectificar. Aos amigos de toda a vida perdoa-se tudo menos a distância. Porque, pese embora nada mude com a distância, ela não camufla as saudades da partilha diária. Ela não esconde a dor da ausência.

Aos amigos de toda a vida perdoa-se tudo? Sim, menos a falta que nos fazem. 

 

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