De dor em dor.
Passeamos de dor em dor, saltitamos alegremente, pelas nossas, pelas dos outros, pelas dos nossos.
Tento sempre enganar os meus pais quando alguma dor me aparece. Parece-me sempre que a dor que sinto reflete-se neles em igual medida, e isso aumenta a minha dor à medida que, neles, ela se vai alastrando.
Eu esforço-me verdadeiramente para esconder todas as dores e eles, sem qualquer esforço, agarram logo, pela minha voz ou pelo desalento que finjo não ter. É injusto. A dor reveste-se de injustiça – disso não há dúvidas.
Julgo que esta multiplicação de dores torna dolorosa a tarefa de ser pais. Deve ser, porventura, a mais dolorosa tarefa de fazer bem isto, o papel de pais.