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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Sex | 15.03.19

De ídolos a ódios.

Catarina Duarte

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Penso muito na forma como passamos de bestiais a bestas sendo que, claro, em algumas das vezes, até é de forma totalmente justificada.

 

O mais recente fenómeno foi o Michael Jackson, ídolo incontornável da minha geração, cujas músicas ouvimos vezes em fim. Não são novas as acusações que agora lhe fazem, à luz do documentário agora lançado: sempre se falou das mesmas, eu, pelo menos, sempre as ouvi; a minha reação não foi propriamente de espanto. Ele foi julgado, que eu recordo-me bem. 

 

Se nos afastarmos da personagem que nos habituamos a gostar, percebemos que há ali muita coisa que não bate certo: um homem negro que faz inúmeras operações estéticas para se tornar branco, um homem que cria um rancho no meio do nada chamado “Neverland”, uma espécie de parque de diversões mas em formato estranho, enfim, podemos até aceitar, podemos até já estar habituados a estas excentricidades mas não podemos considerar isto como comportamentos normais. Claro que não revestem crimes, mas que são atitudes estranhas, lá isso são.

 

Tenho sempre presente que todos os génios revestem a sua genialidade por pancadas fortes. O ponto é saber até que ponto cabem no que é aceite e, especialmente, permitido em sociedade, aquelas com as quais conseguimos lidar com relativa leveza e tranquilidade ou se, por outro lado, são completamente repudiadas, condenadas e que não cabem no conceito de moralmente correto.

 

A pergunta que se impõe sempre, para mim, é: até que ponto não devemos ter a capacidade de conseguir separar a pessoa da obra?

 

O mundo da escrita, por exemplo, está repleto de casos estranhos e de pessoas disfuncionais. O livro “Lolita”, obra-prima que tanto acarinhamos como sendo um dos clássicos de leitura obrigatória, foi escrita por Vladimir Nabokov. Até hoje se fala que ele, possivelmente, era pedófilo. Ninguém tem interesse em saber sobre a veracidade desta suspeita. Neste caso, indiscutivelmente, temos uma obra que se sobrepõe ao indivíduo.

 

Tenho sempre receio que, no que à arte se refere, quando peneirados todos os casos, uns tidos como aceitáveis outros com contornos criminais, alguns deles até julgados e condenados, não nos sobre muita gente para amar.

 

Qual a vossa opinião?

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