Estamos todos com saudades.
Mesmo as futilidades conseguem ser acontecimentos profundos quando delas estamos privados.
Quando se lamentam, as pessoas que estão fechadas em casa, é apenas e só por terem saudades daquilo que preenchia os seus dias. E já não falo – claro que vou falar – das reuniões ou do trânsito ou de qualquer outro ritual aborrecido e que, agora, à distância dos dias que nos separam, nos parecem momentos hilariantes, autênticas férias nas Maldivas.
Falta-nos, a correr no sangue, a rotina dengosa da semana a girar, a felicidade que sempre vem com a chegada de uma sexta-feira que não seja parecida a uma quarta ou a um domingo. Os dias são agora repetições uns dos outros.
Ansiamos algo que nos remeta para a normalidade do que fomos e chegamos até ao ponto de agradecer tudo o que nos devolva a sensação de enfado, desilusão ou aborrecimento perante algo que nem gostávamos: uma fila no Serviço de Finanças, gente a empurrar num festival de Verão ou uma velhinha colada a nós quando pagamos as compras no supermercado.
Que regresse a normalidade. Estamos todos preparados para ela.