Já não gosto de gravatas.
Já não gosto de gravatas. Sei o seu peso. Sei a sua formalidade. Conheço de cor a sua importância. Com a gravata vem sempre uma pseudo superioridade intelectual que, muitas vezes, tantas vezes, não passa disso mesmo, de uma pseudo, enganadora, falsa superioridade intelectual.
Outras vezes, não falamos em pseudo superioridade porque existe, de facto, essa mesma superioridade intelectual, o que quer que ela, de facto, signifique.
Com as gravatas, com os fatos iguais, vincados, lavados a seco, vem também a postura. Uma postura que tem tanto de altiva como de pouco criativa. Uma forma de pensar e trabalhar correta e em linha, com os travões a travar nos momentos certos e o acelerador a rodar quando tem que o fazer.
As gravatas e os pescoços pálidos que lhes dão suporte, as caras sebosas do cansaço do dia, o cheiro pesado de quem passou o dia, em reuniões importantes, em salas sem luz, são tudo, tudo farinha de uma sociedade opaca, cinzenta onde se valoriza o percurso correto, o saber estar, o saber ouvir e, tão ou mais importante, o executar corretamente e de acordo com os procedimentos.
Percebi que as gravatas eram sinónimo disto tudo e, nesse momento, só as tolero em dias de casamento porque, aí e só aí, revestem contornos de alegria e amizade e amor.