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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Qui | 05.05.16

Música.

Catarina Duarte

Passei a raspar o passeio e parei na passadeira de forma rápida. Deixei-o passar e senti-lhe algum medo espalhado nos olhos devido à minha paragem algo desengonçada. Devia ter uns 14 anos (cientes que não consigo dar idades a pessoas, ok?) e só me arrisco a dizer que tinha mais do que dez porque, com menos idade, parece-me difícil andar sozinho na rua com alguma orientação.

Trazia uma partitura na mão esquerda. Aliás, eram várias as partituras dobradas e algo amachucadas que ele segurava. Lá atravessou a estrada e prosseguiu caminho. Tal como eu.

Fui até casa a pensar na música que aquele miúdo transportava na palma da mão. Na falta que a música me faz e, especialmente, na falta de educação musical que tenho.

Gostava de ter mais noção musical como andamento do compasso dos meus dias. Gostava de ter verdadeira noção dos tempos, de ter ouvido para os seguir, adorava conseguir cantarolar algo que alguém atirasse para o ar e que o meu marido não brincasse comigo cada vez que saio de tempo, que, basicamente, acontece sempre. Não tenho voz, não sou musical. Bom, claro que tenho voz. Mas é má. Desafino, não tenho ritmo e não sei distinguir os sons dos instrumentos musicais. O único som que distingo é o da guitarra portuguesa e nem eu sei bem porquê. Não identifico o som do baixo numa música nem tão-pouco o de uma guitarra eléctrica. Aliás, se me colocarem os dois instrumentos à frente não sei dizer qual é um e qual é outro. Adoro piano e perco-me em concertos dos músicos que gosto: tanto na simplicidade de um fado cantado à capela como na complexidade de género mais brutos. Sinto-me bem na música e deixo-me sempre envolver na sua forma. Choro muito a ouvir fado. Especialmente, pela saudade que sinto.

Invejo, secretamente, os miúdos que vão aos programas de cantorias por encherem uma sala só com o som que lhes sai da boca.

Invejo, também secretamente, o miúdo, de partitura na mão, várias partituras, todas juntas, dobradas e amachucadas, reflexo de trabalho e estudo e do ouvido musical repetido e treinado. Invejo o seu conhecimento por esta arte que me passa tão ao lado e, especialmente, por conseguir identificar na complexidade de uma estrutura musical todos os lados que a compõem. 

 

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