Não vale tudo.
Aqui há uns tempos, voava eu por entre naqueles minutos que antecedem o meu sono, vagueando levemente pelo Facebook, quando choquei de frente com uma fotografia de uma pessoa a pousar alegremente no Memorial aos Judeus Mortos da Europa, do arquitecto Peter Eisenman, em Berlim, também conhecido como Memorial do Holocausto.
Aquele embate, meio violento, acordou-me de forma repentina porque, de facto, representava uma falta de noção incrível. Das duas, uma: ou aquela pessoa desconhecia o local onde se encontrava, ou era, simplesmente, completamente superficial nas suas ações.
Eu não quis saber a resposta: pesquisei um pouco e verifiquei que era um comportamento algo recorrente - as pessoas fotografam-se mesmo, de forma leviana, assumindo posturas alegres e joviais, em locais cujo propósito é a introspeção.
Comecei, nesse dia, a escrever este texto.
Eu já estive no Memorial do Holocausto, tal como já estive em muitos outros Memoriais, e só a ideia de lhes tirar um fotografia, apenas com o intuito de o recordar, de o ter presente, de não o esquecer, me estremece.
Mas, bom, há quem vá mais longe e que não se contente com um registo sóbrio, com uma breve fotografia, disparada de fugida apenas para sua leitura pessoal.
Há mesmo quem utilize o espaço em causa, de forma desrespeitosa, há quem se esqueça das razões para ele existir, há quem se embarque em selfies atrás de selfies, nas fotografias artísticas, há quem sorria e encene momentos engraçados, há quem não tenha noção do local onde se encontra.
Há uns tempos, um humorista israelita chamado Shahak Shapira, criou um site com o intuito de ridicularizar quem utiliza este local em concreto para fotografias superficiais.
Basicamente, a acção consistiu numa montagem, substituindo o fundo real (do Memorial) por um fotografia do que ele pretende representar.
E, bom, o resultado foi este:
Sugiro que façam uma pesquisa no instagram, por exemplo, pelo nome do Memorial e vejam o género de fotografias (e filmes) que por lá andam. É inacreditável.
Com tudo isto, digo sempre: não vale tudo, malta. É que não vale tudo.