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(in)sensatez

por Catarina Duarte

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por Catarina Duarte

Ter | 31.07.18

Opinião: Lost in Translation.

Catarina Duarte

Lost in trans.jpg

 

Por razões que, em breve, entenderão, ontem resolvemos ver o Lost in Translation, um filme de 2003, de Sofia Coppola, com o Scarlett Johansson e a Bill Murray.

 

Já o tinha visto há 15 anos, quando estreou e eu era, na altura, tal como o filme, 15 anos mais nova e, lembro-me de ter gostado mesmo muito e pensei que esse gostar se ia manter para o resto da minha vida, não oscilando o quanto dele gostava, e que, cada vez que me perguntassem se tinha gostado, eu responderia que sim, que claro que sim, que a subtileza e aparente leveza do filme, se iam perpetuar na minha vida sempre na mesma medida, e que não havia necessidade de o rever e da opinião ser mudada.

 

Até que, ontem, o revi e, de facto, a nossa maturidade ajuda-nos a moldar a nossa opinião sobre determinados filmes.

 

Conta a história de uma miúda, Charlotte, recém-casada, que viaja para Tóquio com o marido que é fotógrafo. A sua ausência de sono faz com que se cruze com Bob, ator que está hospedado no seu hotel, durante a sua estadia em Tóquio, com o objetivo de fazer umas campanhas publicitárias de determinado whisky. Bob é casado, tem filhos, quase que luta, internamente,  pela felicidade do seu casamento e é muito mais velho do que Charlotte.

 

Scarlett Johansson tinha 19 anos quando rodou o filme e Bill Murray andava por volta dos 50, esta diferença de idades, a par da figura esguia e controlada da personagem de Bill Murray, ajuda a dar consistência ao carinho e à relação ligeiramente parental, por um lado, e à tensão quase sexual, por outro.

 

Ambos sozinhos e também solitários encontram muitos pontos em comum e a relação que começa no bar do hotel começa a solidificar-se e a terem sempre mais e mais pontos em comum.

 

Lost in trans3.jpg

 

E agora o título: das várias interpretações que podem ter do título,  a minha é que representa o paralelismo entre o impossível que é entender Japonês e o difícil que é viver relações, dos pontos de contacto entre as pessoas que as compõem e da forma como depressa se descosem e depressa se atam a outras, se o contexto assim o permitir, o difícil, então, que é entender a relação como um todo, como se a tradução se perca pelo caminho e metade da mensagem não chegue ao destinatário. O título é perfeito!

 

E depois, a razão pela qual vimos o filme nesta altura da nossa vida: Tóquio. É onde é filmado, e evidencia o contraste óbvio entre as dúvidas existenciais dos dois protagonistas e a gritante vida da cidade, com toda a sua luz, com todo o movimento.

 

E o fim? O fim não poderia ser outro. A maioria das pessoas, possivelmente, esperava um final diferente, um fim com mais densidade, talvez, onde a tensão, que entre eles existia, se consolidasse em algo mais… físico.

 

Eu já tinha, como já referi, visto o filme, mas não me lembrava como acabava. No decorrer do filme, sempre considerei que acabasse como acabou. Um beijo e cada um segue as suas vidas. Aquilo que se passou, só fez sentido naquele momento, naquele hotel, naquela cidade e a vida de cada um seguiu o seu curso.

 

De apenas gostar do filme, opinião que tive há 15 anos, passei a gostar imenso e estou muito motivada a vê-lo outra vez para poder passar de gostar imenso para amar.

 

Nós mudamos e os filmes mudam connosco.

 

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Viram o filme? Gostaram? Vão revê-lo?

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