Opinião - O Método Kominsky.
Aparece, ocasionalmente, uma série ou um filme que tem a capacidade de nos pontapear nos sítios que julgamos mais protegidos. Vocês já me conhecem e sabem que este tipo de séries e filmes são os meus preferidos – são aqueles que nos obrigam a debruçar sobre as nossas angústias de forma directa e sem qualquer pudor.
Há um lago fundo e negro, bastante fundo, bastante negro, onde me afogo mais vezes do que aquelas que gostaria, que é a noção de que, se tudo correr bem, vamos ver os nossos envelhecer, perder todas as capacidades e morrer, e que, ficaremos também nós sem amigos, sem a nossa família, sem também aquela família que tem a nossa idade, e, por fim, sem nós próprios (porque perdermos, por fim, "nós próprios", para nós, é sempre o final de tudo). Nós também iremos morrer.
O contraste frequente entre o que somos quando envelhecemos e o que fomos nos nossos tempos gloriosos, a noção clara de que os jovens não têm a mínima noção do que lhes vai acontecer, a ligeireza e superficialidade com que encaram a vida, como se fossem passar despercebidos nisto que a vida nos reserva, é o tema – um dos temas – que esta série pretende aprofundar. Quando somos jovens, ignoramos toda e qualquer fatalidade da vida.
Esta série tem um Michael Douglas envelhecido, como seria de esperar ou não tivesse ele 74 anos, mas (ao mesmo tempo) extremamente jovial, tem um Danny DeVito que é urologista (e só isto já nos dá vontade de rir) e tem um Alan Arkin sarcástico e irresistível.
Mas não se fica por aqui: tem todo o choque que o envelhecimento nos provoca: a perda da pessoa da nossa vida, o trabalho que desaparece, as doenças e a total inexistência de sentido para cá continuarmos. E tem também e sempre a amizade. Fala muito sobre amizade.
Escrito e representado com humor, com sarcasmo e sempre com dureza.
Está disponível na Netflix e recomendo imenso.
E vocês, já viram? O que acharam?