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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Seg | 29.10.18

Somos todos contra Bolsonaro?

Catarina Duarte

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Não, não somos.

 

Bolsonaro ganhou as eleições do Brasil e conseguiu esta proeza com mais de 55% dos votos válidos, o que representa mais de 55 milhões de votos. Por isso, só por isso, não respeitar que Bolsonaro ganhou as eleições do Brasil significa não respeitar a vontade de um povo, significa julgar-se acima da Democracia e isto eu nunca poderei aceitar.

 

Sobre as eleições brasileiras, mais do que perceber como Bolsonaro ganhou, a mim interessa-me saber como é que Fernando Haddad perdeu ou, para ser mais exata, como é que o PT perdeu. Sim, no final do dia, foi mesmo o PT que perdeu. Não estamos, como nunca estivemos, a falar de uma vitória da extrema-direita. Esta é, na minha perspectiva, a análise que interessa.

 

Para nós, que vivemos estas eleições, completamente, à distância, é muito fácil julgar e ir contra a decisão da maioria que decidiu. Somos fortíssimos a atirar pedras direcionadas às cabeças dos votantes, temos a pontaria treinada, não nos falha uma, e somos igualmente bons a tecer comentários do mais baixo nível possível, como aquele que Margarida Martins, presidente da Junta de Freguesia de Arroios, fez quando sugeriu que os brasileiros que vivem em Portugal e que votaram em Bolsonaro devem voltar para o Brasil para ali viverem a sua liberdade. Muito democrático, sim senhora.

 

Adorava ser uma pessoa cheia de certezas, aliás, quando abro as redes sociais, acho mesmo que sou a única pessoa em Portugal cheia de dúvidas. Todos votavam, sem qualquer dúvida, no PT. Parabéns! Fico feliz! Infelizmente, eu não sei. Não sei mesmo.

 

Felizmente, vivo fechada na minha bolha, respiro de forma pacífica a segurança e a liberdade que o meu país me proporciona, e nunca estive na ingrata situação de ter que decidir entre um partido corrupto e um tipo com ideais extremistas.

 

Felizmente, nunca vivi num país com a violência e com a corrupção do Brasil que me fizesse ponderar votar num tipo com ideias extremistas.

 

Felizmente, posso ir almoçar sem qualquer medo de ser assaltada e não preciso de andar num carro blindado com medo de levar um tiro na cabeça.

 

Felizmente, ainda acredito que a polícia e os tribunais não estão controlados pelos partidos de poder e posso aguardar, de forma pacata, as decisões dos julgamentos mais mediáticos.

 

Mas fico, genuinamente, feliz por saber que sou a única pessoa, com uma conta no instagram, cheia de dúvidas. É sinal que todos os portugueses que habitam e opinam nas redes sociais têm a certeza sobre como se vive no Brasil. Eu é que não tenho essa capacidade, a capacidade de me colocar realmente nos pés de um brasileiro, sentindo concretamente, sofrendo verdadeiramente o que todos lá sentem e sofrem. E também não tenho a capacidade de menosprezar a opinião e de ir contra os mais de 55 milhões de pessoas que votaram em Bolsonaro. É que eles têm muita força: a força da Democracia.

 

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