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(in)sensatez

por Catarina Duarte

(in)sensatez

por Catarina Duarte

Seg | 17.03.14

Sopa + Letras

Catarina Duarte

Quando não sabes o que escrever, vai fazer uma sopa.

Descasca duramente os legumes, corta-os com algum vigor, não muito, o suficiente apenas, e atira-os para uma panela corriqueira ou, então, para dentro daquelas mais modernas, tanto faz, o resultado tende a ser o mesmo. A sério, juro que é remédio santo.

Depois, adiciona água, não muita!, que eu gosto delas, das sopas, mais para o espesso, como as palavras, sem floreados, nem bonitezas associadas, duras e certeiras, como se querem. No fundo, se o que interessa é apagar o fogo insaciado pela ausência de letras, coze-a em lume brando, regularmente mexida e esporadicamente provada. Rectifica temperos. Não te esqueças. Coloca sal e um fio de azeite, não estiques no sal que, pese embora as palavras não se quererem insipidas, também não convém abusar nos condimentos. Em demasia, fazem mal: dizem.

Depois, claro, no final da sopa feita, com abundantes fios de couve mais uns mixurucos pedaços de nabo ainda a boiar no caldo alaranjado, pode dar-te para escreveres sobre o próprio acto de fazer sopa. Bem, aí nada feito. Mas também te digo: se o texto tiver a força revitalizante e, ao mesmo tempo, a capacidade de apaziguar o ardor interior que uma sopa tem, podemos dizer, sem pudores, que atingimos concretamente o objectivo a que nos propusemos. 

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