T.R.U.M.P.
Não digo que o conteúdo não me afecte (erradicar o terrorismo da terra é tão real como acabar com a fome no mundo).
O seu conteúdo, no geral, é manifestamente contraditório com aquilo que sou e, mais importante ainda, com aquilo que pretendo ser. Mas meu problema não é (só) esse.
O meu problema também não é tanto o lábio que pende, quando fala. Na verdade, seria bom que o meu problema fosse o lábio que pende, quando fala mas, depois, há o (falso) cabelo amarelo (que jura ser verdadeiro) e o lábio que pende, quando fala, perde importância.
O meu problema é mais a forma. A forma. A forma sobrepõe-se, infelizmente, a qualquer conteúdo – conteúdo, esse, que reveste contornos de agressividade. Mas a forma,essa, envolve-se em mim. A forma, no final, gera-me repulsa.
Há políticos cujas ideias não são as nossas. Há (inclusive) políticos com ideias (igualmente) perigosas para a sociedade que pretendemos ser. Mas, mesmo relativamente a esses, não manifestamos o ódio da forma como o fazemos com Trump. Isto acontece porque, essencialmente, depois há Trump. Onde toda a sua figura é composta por partículas grosseiras e presunçosas (a roçar o grutesco). Onde há também um lábio que pende, quando fala. E um (falso) cabelo amarelo (que jura ser verdadeiro).
A forma. Os homens medem-se (também) pela forma como interagem com os seus pares e nunca gostei de ver frieza e superficialidade com quem se dorme.
No fim, há Trump. Ao fundo do túnel, temos Trump.
O problema, o meu problema, é este: até consigo lidar com ideias duvidosas, com histórias perigosas, com análises distorcidas - mas acho difícil que consiga lidar com Trump.