Tudo adiado.
Ia escrever “tudo cancelado”. Depois apaguei. O que se deve escrever mesmo é “tudo adiado”. As compras de casas, os primeiros empregos, os casamentos, os batizados e os aniversários. Foi tudo adiado.
Por um fio, daqueles finos, daqueles de nylon, estamos pendurados na indefinição do tempo.
Estamos, será?, a pairar, estamos suspensos nas horas que atravessam o dia, quase sem respirar, à espera que tudo passe, na esperança que não sejam cravados, nem em nós, nem nos nossos, danos de maior.
Mas sabem o que é que eu sinto? Que, como estamos todos no mesmo barco, não há pressas.
Ninguém se acotovela para chegar mais cedo a sítio nenhum: não há nenhum outro sítio onde devamos estar, para além da casa.
Esvoaça a resignação. Mas também alguma esperança.