Uma Disneyland chamada Lisboa.
Não sou nada aquele género de pessoa que está sempre a maldizer a quantidade de turistas que a sua cidade tem.
Em parte, não o faço porque reconheço a sua importância na nossa economia mas também (e, talvez, principalmente) porque tenho um certo orgulho da minha cidade estar a ser eleita como o destino de férias de alguém. Afinal de contas, com tantas cidades no mundo, foram logo escolher a minha!
Tem que haver justiça: o turismo melhorou Lisboa - tornou-a (ainda) mais luminosa, as suas ruas foram tratadas, os prédios vestiram-se com as suas melhores roupas e o rio, bom, o rio, que andou envergonhado durante anos, ganhou o papel que merecia: finalmente, a cidade deixou de estar centrada no seu próprio umbigo e abriu-se para o seu enorme Tejo.
Porém, como “não há bela sem senão”, nos miradouros mais badalados da cidade já pouco se ouve falar português, em algumas ruas desta Lisboa, que até há bem pouco tempo se mantinha sóbria e envergonhada, passam agora grupos intermináveis de miúdas, todas vestidas de igual, alegres e escaldadas, a entoar cânticos divertidos, em alguns restaurantes, a primeira ementa surge já em inglês e os pratos tendem a levar aquele twist de understandings e sardines. O trânsito está caótico, os tuk tuks aumentam a olhos vistos e deu-se a multiplicação dos elétricos (dos 28 e dos outros). Sobe-se a Graça e é só escolher: montinhos de ingleses, chineses e franceses - ordenados em grupos, acompanhados por guias, a vibrarem com os elétricos e com os locais, enquanto alçam a máquina fotografia para pararem no tempo o bom tempo que se vive nesta cidade. É difícil deslocarmo-nos de carro nas zonas mais turísticas: a prioridade e o carinho estão agora voltados para os veículos turísticos. Na verdade, sinto-me a mais nesta cidade que é minha!
Tenho orgulho, claro que sim. Mas tenho também muitas saudades de ter Lisboa só para mim, de poder namora-la em paz, de poder passear tranquilamente, de poder vivê-la de forma recatada e tranquila.
No final do dia, entre a saudade e o orgulho, acabo sempre por ficar feliz. A minha cidade, Lisboa, é agora adorada por todos – na verdade, agora que penso nisso, não era justo guardá-la só para mim.